Carnaval de Salvador: dez momentos marcantes em 2020

Guilherme Soares Dias

O carnaval produz momentos únicos e faz com que seus fãs esperem um ano todo para que chegue o próximo. Em 2020, a folia de Salvador teve como destaque os blocos afros, o pré-carnaval com blocos como “Banho de Mar à Fantasia”, o trio do Afropunk, entre outros. O Guia Negro preparou um resumo com os dez momentos mais marcantes. Confira:

1 – Banho de Mar à fantasia

Representa o pré-carnaval da capital baiana que vê as semanas que antecedem a folia oficial bombarem cada vez mais. O bloco Banho de Mar à Fantasia desce a icônica Ladeira da Preguiça depois de passar pela Rua Carlos Gomes e pelo Largo Dois de Julho. O bloco termina com banho de mar e shows. Antes vai ladeando uma vista linda, com fantasias a cada ano mais criativas. A banda do Bloco Ilê Aiyê se apresentou esse ano. Teve shows do Ministério Público e Larissa Luz. Os discursos políticos se alongaram mais do que deveriam, mas o bloco promete vir ainda maior em 2021.

2 – Mascarados

O bloco completou 21 anos em 2020 e traz Margareth Menezes à frente de uma multidão. A cantora Majur, com uma fantasia de deusa egípcia, foi a rainha e também cantou algumas músicas. As fantasias são o ponto alto de um bloco seguido principalmente por pessoas LGBTQI+. Era tanta gente que ficou impossível andar em alguns momentos. Os baianos chegaram a reclamar dos “descamisados do Sul” que empurravam ao invés de seguir o bloco. “Faraó”, a música mais tocada do carnaval, foi ouvida em três momentos diferentes no circuito Barra-Ondina.

3 – Saída do Olodum

O bloco afro do Pelourinho, Olodum, é mais do que uma banda que desfila no carnaval. Desperta paixões, gera identidade e arrasta pessoas da comunidade pela avenida. O Olodum é projeto social, é do gueto, é pop, é resistência e traz as histórias da África para a folia. Na sexta de carnaval, o bloco saiu por volta das 16h da Escola Olodum e seguiu com seus tambores potentes pelas ruas estreitas de paralelepípedo do Pelourinho até a sede do bloco. Na avenida, arrastou uma multidão, composta por pessoas das mais diferentes classes sociais, mas predominantemente das mais baixas, que cantam as músicas que são verdadeiras aulas de história.

4 – Saída do Ilê Aiyê

A cerimônia começa com pipocas e milhos brancos atirados nas centenas de pessoas que se aglutinam na Ladeira do Curuzu, como uma forma de pedir passagem. As pombas são soltas. É assim que começa o carnaval para o bloco afro mais antigo do Brasil. A saída que ocorre sempre no sábado de carnaval atrasou mais do que costume em 2020. Os carros que ladeavam a Ladeira do Curuzu atrapalharam o fluxo. A falta de lixeiras fez com que o lixo tomasse conta da rua pós-festa. Mas nada impediu de que a saída do Ilê fosse bonita, como sempre. Quando os tambores começaram a tocar a multidão foi envolvida pela música. Alguns metros para cima da Ladeira, o mini trio estacionado na frente da Senzala do Barro Preto, sede do bloco, esperava junto com cantora Iracema Kiliane, para entoar a música do ano, que fala sobre Botswana.

5 – Trio do Afropunk

O Afropunk desfilou com o trio elétrico do BaianaSystem conhecido como Navio Pirata. No sábado (22) saiu com a banda Afrocidade, que toca pagodão e pede para as pessoas “meterem dança”. Enquanto no domingo (23) foi a vez de BaianaSystem abrir suas rodas e dar espaço ao “bate cabeça do amor” que provoca milhares de pessoas a pularem e dançarem juntas. São bandas de pessoas negras, que até então não tinham espaço durante os dias de carnaval na cidade. No sábado, o Afrocidade puxou pela primeira vez um trio elétrico, mas parecia veterano. Fez história no carnaval de Salvador a participação do rapper Mano Brown, que causou comoção dos ambulantes aos camarotes. Já no domingo, os foliões pularam do começo ao fim com BaianaSystem.

6 – Trio Aya Bass

Vestidas de branco, com uma banda feminina, Larissa Luz, Luedji Luna e Xênia França puxaram o trio “Respeita as Mina” pelo segundo ano consecutivo no circuito Barra-Ondina. Elas cantaram músicas próprias e de outras cantoras negras tradicionalmente deixadas de lado dos holofotes. Margareth Menezes foi uma das homenageadas. Mas elas também cantaram Beyonce e fizeram brincadeira com o nome do trio formado pela cantora norte-americana no começo da carreira, Destiny’s Child, e se nomearam Nordestiny’s Child. O sucesso “verdinha” de Ludmila também apareceu. O “Respeita as Mina” veio atrás do Trio do Afropunk. Isso significa que o circuito foi tomado por um mar de pessoas negras conscientes e sabedoras dos espaços que querem ocupar seguindo artistas negras que estão produzindo a nova música da Bahia e se posicionando politicamente. Foi bonito e histórico.

7 – Saída do Filhos de Gandhi

Uma multidão se concentra na Rua Maciel de Baixo, no Pelourinho, em Salvador, no domingo de carnaval (23). É onde fica a sede do bloco afro Filhos de Gandhi, fundado em 1949, um ano depois da morte do líder indiano Mahatma Gandhi. Homens vestidos de azul e branco formam um mar de gente ladeados pelos seguidores do bloco que querem acompanhar a tradicional saída e o padê (pedido de licença e agradecimento) para Exu, entidade dos caminhos que rege o carnaval. Prevista para às 14h, somente por volta das 16h as cornetas começam a tocar e anunciam as pipocas que são jogadas a partir de um cesto de palha na multidão. Os homens saem pela porta da sede e seguem poucos metros para baixo no Largo Pelourinho. Nesse lugar já carregado de histórias e energia abre-se uma roda e se oferece o padê para Exu. Apesar de ser um ritual na rua, aos olhos da multidão, poucos conseguem ver de fato o que é feito dentro da roda. As pombas são soltas e a está dada a largada para os toques do afoxé, o candomblé trazido para a rua, com todos os seus rituais, vestes, adereços, danças e cânticos. O agogô corre solto e os tambores e atabaques começam a subir a ladeira em direção ao circuito do Campo Grande.

8 – Mudança do Garcia

Composto por vários blocos com tom mais político, o carnaval do bairro do Garcia invade o circuito Campo Grande em sua reta final. Pela ladeira principal do bairro, centenas de pessoas usam faixas, fantasias e ouvem músicas que falam de protestos, mas também de alegria. Há grupos de professores, funcionários públicos, partidários, de coletivos, entre tantos outros que se juntam e se aglutinam durante toda a segunda-feira de carnaval, começando por volta das 9h e indo até pelo menos às 17h. Os moradores do bairro fazem feijão para receber os amigos.

9 – Attooxxa

A banda de pagodão eletrônico tem emplacado hit atrás de hit desde 2018 e vem ampliando seu público. No carnaval de 2020, saiu nos circuitos do Campo Grande e da Barra-Ondina, além de fazer show na Praça Castro Alves. Costuma abrir rodas para que as pessoas se joguem uma por cima das outras, numa brincadeira saudável e bem baiana. As músicas fazem com que todos dancem até o chão, rebolando de forma livre e alegre. A comunicação visual e os dançarinos são outros pontos fortes da banda.

10 – Cortejo Afro

Um bloco afro com balé, obra de arte, baianas, bateria, artistas e público diverso. Esse é o Cortejo Afro que leva para o carnaval de Salvador um desfile “elegantemente sofisticado”, como diz seu slogam. Fundado em 1998 pelo artista plástico Alberto Pita no Terreiro Ilê Asé Oyá, em Pirajá, na periferia da capital baiana, o bloco trouxe como tema em 2020 “Oxumarê” para falar sobre mobilidade, diversidade, riquezas, beleza, amor e tolerância. Cerca de 1,5 mil pessoas vestem as roupas do bloco e desfilam durante três dias de carnaval, nos circuitos do Campo Grande e Barra-Ondina. O desfile é elaborado e traz pelo menos sete “alas” diferentes, entre elas uma obra de arte: o navio negreiro concebido por Pita e que esteve exposto no Museu de Arte Moderna (MAM) da Bahia antes de ganhar os circuitos. O bloco também participou do camarote Expresso 2222, além de ensaios animados nas segundas-feiras que antecederam o carnaval, sempre com participações especiais.

Foto: Heitor Salatiel
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Redação

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