Abaixo-assinado pressiona a USP reconhecer Luiz Gama como doutor

O Conselho Universitário da Universidade de São Paulo (USP) vai analisar em 29 de junho a proposta apresentada pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) de concessão do título de “doutor honoris causa” póstumo a Luiz Gama, advogado abolicionista, jornalista e poeta. Para apoiar o processo há um abaixo-assinado https://bityli.com/vOG7c, já que o processo ficou parado nos últimos meses e será preciso utilizar as técnicas do abolicionista de enfrentar o sistema para reconhecê-lo com o título.

Impedido de estudar na Faculdade de Direito do Largo S. Francisco por ser negro, Gama atuou como “rábula” (advogado sem diploma) e, como tal, foi responsável pela libertação de mais de 500 negras e negros escravizados. A história de Gama impressiona pela sua sofisticação intelectual sendo um autodidata. Além de atuar no campo jurídico, foi jornalista e participou da criação dos jornais Diabo Coxo e Cabrião, além de ser autor da obra poética “Primeiras trovas burlescas”.

No ano de 2015, foi reconhecido simbolicamente como advogado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em uma atividade solene realizada na Universidade Mackenzie e em 2018, ganhou carteira de jornalista e foto no Sindicato dos Jornalistas Profissionais de S. Paulo. No ano de 2015 também foi homenageado pela Faculdade de Direito da USP batizando com o seu nome uma das salas da instituição.

Para completar o ciclo de reparação histórica a um dos grandes heróis nacionais e intelectuais comprometidos com a justiça social a expectativa é a concessão do “doutor honoris causa” pela USP. O abolicionista deve ganhar um filme neste ano com o nome de “Doutor Luiz Gama”, dirigido por Jefferson De, que fala justamente da importância de reconhecê-lo como intelectual combativo. Em fevereiro, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) concedeu título de doutora honoris causa para a escritora Carolina Maria de Jesus, reconhecendo a importância de sua obra.

QUEM FOI

Luís Gonzaga Pinto da Gama, o Luiz Gama, nasceu em 1830 em Salvador e morreu em 1882 em São Paulo. Ele foi uma das figuras mais combativas do século XIX em prol da abolição da escravatura. Atuava como advogado de pessoas escravizadas e na imprensa da época, escrevendo artigos sobre o tema. Fundou Diabo Coxo, o primeiro jornal ilustrado humorístico da cidade, ao lado do caricaturista Ângelo Agostin.

O reconhecimento de sua importância como figura histórica foi tardio e vem aos poucos aumentando. No último 17 de maio, essa atuação ganhou destaque com o descerramento de uma placa na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, que reconhece seu legado na imprensa paulista. Em 2015, a Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP) já o havia reconhecido Gama como advogado. Além de ter frequentado a faculdade São Francisco clandestinamente, ele libertou centenas de escravos por meio de interpelações judiciais.

Durante a Feira Literária de Paraty (Flip) 2018 a mesa “Poeta na torre de capim”,  debateu a falta de leitores e do silêncio da crítica em relação a alguns autores, como Gama. Em meados de 1860, Gama foi jornalista de grande audiência, cronista e comentarista jurídico, político e sobre temas da escravidão. Além de Diabo Coxo, escreveu para Cabrião, Radical Paulistano, O Ipiranga, Correio Paulistano, A Província de São Paulo (hoje O Estado de S. Paulo), Gazeta do Povo e jornais da corte – como Gazeta da Tarde, O Abolicionista e Tiradentes. Também foi fundador e proprietário do periódico O Polichinello.

Em seus textos, Gama dava visibilidade aos abolicionistas negros. “Acabo de ler, sem espanto, mas com pesar, o (…) escrito, publicado na (…) Província [de São Paulo]de hoje, contra o distinto cidadão José do Patrocínio. Em nós, até a cor é um defeito, um vício imperdoável de origem, o estigma de um crime; e vão ao ponto de esquecer que esta cor é a origem da riqueza de milhares de salteadores, que nos insultam; que esta cor convencional da escravidão, (…) à semelhança da terra, [a]través da escura superfície, encerra vulcões, onde arde o fogo sagrado da liberdade”, escreve Gama na Gazeta do Povo.

Em 1870 foi acusado de “caluniar” o juiz municipal Antônio Pinto do Rego Freitas, que hoje dá nome à rua do Sindicato dos Jornalistas e onde agora tem uma placa que reconhece o trabalho de Gama: “jornalista atuante na imprensa de seu tempo e grande influenciador das lutas pelo fim do regime escravocrata, reconhecido como o maior abolicionista do Brasil e patrono da abolição da escravidão do Brasil”.

Filho de mãe negra e pai branco foi vendido como escravo, pelo próprio pai, aos 10 anos de idade. Permaneceu analfabeto até os 17. Conquistou judicialmente a própria liberdade e passou a atuar na advocacia em prol dos cativos – estima-se que tenha libertado do cativeiro mais de 500 escravos. Faleceu em 1882, seis anos antes da sanção da Lei Áurea, que agora completa 130 anos.

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Guilherme Soares Dias

Jornalista, consultor, empreendedor e amante de viagens

Artigos: 37

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