Com muita felicidade escrevo este texto com a esperança que o título do mesmo seja uma realidade de agora em diante. O AFROTURISMO esteve presente em dois grandes eventos tradicionais do setor do turismo brasileiro, com protagonismo e espaços inéditos. Claro, estas conquistas não aconteceram por acaso. É resultado de muita dedicação daqueles que atuam com a causa, mesmo com apoio mínimo e toda a resistência do racismo estrutural. Conseguimos falar sobre o tema com lugares de FALA como nunca tivemos antes. E sim, escrevo no plural porque quando um está, todos estão. É UBUNTU na prática.
Nos dias 27 e 28 de fevereiro, fomos o foco principal do LACTE 18, principal evento da ALAGEV ( Associação de Gestores de Viagens e Eventos da América Latina ), evento do ano do turismo / eventos corporativos da América Latina , edição que neste ano teve o recorde de participantes ( 1.300 ). O tema social do evento, que ocupou o palco principal foi “Enfrentemos todos o racismo. Se você não enfrenta, sua omissão permite “. Todo o evento , desde a concepção inicial foi pensado para ser o mais inclusivo possível, com profissionais negros espalhados por toda a programação, com empreendedores negros com lounge exclusivo para negociações com público do evento e letramento de todo conteúdo do pré-evento, durante e pós-evento.
Conseguimos ter 13 palestrantes negros falando dos mais diversos temas durante o evento e na minha palestra, junto com Samanta Lopes, consultora de diversidade e inclusão falamos diretamente sobre o racismo estrutural, seus efeitos no turismo e propostas de ações para combatê-lo. Samanta (mulher preta) e eu fizemos parte de toda consultoria, curadoria do evento, com autonomia e lugar de fala. Sei que ainda estamos longe do ideal do espaço que o afroturismo merece nos eventos do setor, mas para mim, pessoalmente, foi uma conquista especial. Tive a dupla alegria em conseguir unir os meus 25 anos de experiência trabalhando no turismo com os três anos atuando no afroturismo para gerar este momento especial para nossa causa, inclusão racial no turismo.
No Fórum Panrotas, realizado no início de março, Bia Moremi, CEO da Brafrika Viagens e integrante do Coletivo Pelo Afroturismo foi a mestre de cerimonias do dia 8, no período da tarde. Neste espaço ela pode falar da sua agência, que é focada no turismo afrocentrado e também vem trabalhando com grupos corporativos, importante para entrarmos em lugares do turismo em nossos serviços ainda não são vistos como opção para viagens de incentivos ou semelhantes. E para brindar mais uma excelente conquista, Bia recebeu Rachel Maia, CEO da RM Consulting, conselheira da maior operadora de viagens do país, CVC , para um painel onde puderam falar dentre outros assuntos de como podemos combater o racismo no turismo e como torná-lo mais inclusivo para profissionais negros que desejam ter uma carreira bem-sucedida no setor. Foi muito simbólico ver duas mulheres negras no Dia Internacional das Mulheres tendo protagonismo em um dos eventos mais tradicionais do setor.
Como eu sempre digo , ainda temos tanto para fazer quando se trata da inclusão racial no turismo brasileiro, pelo reconhecimento e apoio (principalmente financeiro) ao AFROTURISMO, que todas estas conquistas parecem pequenas … mas ainda que longe do ideal, foram históricas pela visibilidade e alcance… 2023 ainda haverá grandes eventos do setor no Brasil … os dois exemplos acima mostram que é possível ser inclusivo nos mesmos, depende apenas de dois fatores para os organizadores: CONSCIÊNCIA e AÇÃO. Repito o que disse no primeiro parágrafo: tenho a ESPERANÇA que esta seja uma nova realidade do AFROTURISMO nos eventos do turismo brasileiro.
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