O projeto “África Diversa” vai debater temas como “Escravidão no Brasil” e “Narrativas Africanas” abordando o Cais do Valongo, considerado patrimônio da Unesco e que recebeu cerca de 1 milhão de pessoas escravizadas vindas do continente africano, além de narrativas de liberdade e produção de conhecimentos e possibilidades negras.
O evento ocorre entre os dias 19 e 23 de abril, terá formato digital, gratuito e será exibido pela página do Facebook. Serão mesas de debate, oficinas e vídeos, com participações de Milton Guran, Elisa Larkin Nascimento, Rafael Galante, Sérgio Pererê, Rogério Athayde, entre outros. O projeto é patrocinado pela Lei Aldir Blanc. “Estamos em plena década afrodescendente, que vai até o ano de 2024. Os desafios para o reconhecimento e justiça na abordagem desses temas e pontos, como o racismo, ainda são imensos. Queremos colaborar por meio de reflexões sobre temas culturais para a inspiração de ações e práticas que possam trazer ganhos sociais, principalmente para as populações negras””, relata Daniele Ramalho, gestora e curadora do projeto.
Mesmo com sua importância histórica, o Cais do Valongo já foi pavimentado, esquecido e, mesmo hoje com o reconhecimento de Patrimônio da Humanidade pela Unesco, ainda sofre problemas como um alagamento que o atingiu no início de abril. O site do Instituto dos Pretos Novos possibilita que você conheça o trabalho de preservação, tenha contato com os detalhes históricos e se programe para participar dos eventos e oficinas.
Sobre o África Diversa
O projeto foi criado em 2011, proclamado pela UNESCO como o Ano Afrodescendente. Naquele momento, a cidade preparava o projeto Porto Maravilha, que criou o Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana, no Cais do Valongo. Nesses 10 anos, muitas questões mudaram, assim como o olhar sobre as temáticas das culturas africanas e afro- brasileiras também.
O África Diversa é uma parceria entre a Geral Projetos Culturais, a Prefeitura do Rio de Janeiro e Secretaria Municipal de Cultura, e teve a sua primeira e segunda edições realizadas no Centro das Artes Calouste Gulbenkian.
Programação
Dia 19 de abril
9h30 – Abertura
- Daniele Ramalho, curadora e gestora do África Diversa
- Tabué Nguma- diretor do programa “Rota dos Escravos”, na UNESCO
10h- Mesa “Cais do Valongo: silenciamentos, patrimonialização e reparação”
Debate sobre os processos de patrimonialização do Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana, no Cais do Valongo, abordando os silenciamentos, enquadramentos e desafios que envolvem a elaboração de um circuito em torno da memória e história da escravidão na cidade do Rio de Janeiro.
Participantes:
Milton Guran, coordenador-geral do FotoRio e membro do Comitê Científico Internacional do Projeto Rota do Escravo da UNESCO.
Simone Vassalo – Tem experiência na área de antropologia do patrimônio, antropologia da diáspora afro-brasileira, antropologia dos museus e antropologia urbana. Atualmente, desenvolve uma pesquisa sobre as representações da escravidão na Zona Portuária do Rio de Janeiro a partir dos sítios arqueológicos Cais do Valongo e Cemitério dos Pretos Novos.
18h- Oficina “Literatura oral de Ifá”
Contar histórias é uma das maneiras de compreender a condição humana. Neste sentido, a possibilidade de transmissão dos conteúdos narrativos cria mecanismos dinâmicos para o ambiente cultural, tornando-se importante elemento constitutivo da vida em sociedade. A literatura oral de Ifá cumpre estes mesmos papéis, sendo também expressão de “cura”, no contexto da consulta oracular. A oficina “Literatura oral de Ifá” pretende discutir estes aspectos, a partir de uma abordagem tanto religiosa quanto filosófica. A oficina é ministrado pelo babalaô, escritor e pesquisador Rogério Athayde.
Dia 20 de abril
10h- Mesa “Matriz Africana no Rio de Janeiro: protagonismos negros e desafios sociais”
Serão discutidos temas como renda, escravidão e liberdade. Juliana Barreto Farias contará sobre o livro “Mercados Minas: africanos ocidentais na Praça do Mercado do Rio de Janeiro (1830- 1890)”, obra fundamental no estudo da historiografia da escravidão no Brasil, onde a autora aborda o papel dos africanos e africanas minas que atuaram no comércio do Mercado da Candelária e os lugares por eles ocupados. Já Elisa Larkin trará as pesquisas de seu livro “O Sortilégio da Cor”, com importantes análises em torno de questões identitárias, explicando suas teses sobre racismo e negritude.
Participantes:
Juliana Barreto Farias – Investigadora do Centro de História da Universidade de Lisboa. Tem experiência em produções editoriais e na área de história, com ênfase na história do Brasil, da África e da diáspora africana.
Elisa Larkin Nascimento – atua no IPEAFRO, Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros e coordena o tratamento técnico e a difusão do acervo de Abdias Nascimento.
18h- Oficina “Linha do Tempo dos Povos Africanos”
A oficina trabalha com a Linha do Tempo dos Povos Africanos e respectivo Suplemento Didático, criados por Elisa Larkin Nascimento. Partindo da apresentação, pela autora, dos conteúdos das duas peças, a metodologia da oficina se baseia no diálogo com as pessoas participantes. Além de perguntas e respostas, a professora busca explorar sugestões e iniciativas apresentadas por educadores, artistas e profissionais presentes.
Dia 21 de abril
10h- Mesa “O Reinado e a Herança Africana: culturas musicais e identidades afro- diaspóricas”
Rafael Galante pesquisa os processos de transformação, (re)criação e incorporação das culturas africanas e suas musicalidades no Brasil, tendo em vista a agência histórica (cri)ativa dos músicos africanos escravizados oriundos de Angola e do Congo que, entre os séculos XVI e XIX, construíram em diáspora as bases de boa parte das músicas populares contemporâneas. Sérgio Pererê traz, em seu trabalho musical, uma forte conexão com a ancestralidade, entre o congado, o candomblé e outras referências africanas e da diáspora, com sua voz potente e afetos que o atravessam.
Participantes: Sérgio Pererê, compositor, percussionista, poeta e ator; Rafael Galante, historiador e etnomusicólogo.
18h- Oficina “Ser agudá é ser brasileiro da África”
Nesta oficina, o fotógrafo e antropólogo Milton Guran apresentará a sua experiência de pesquisa antropológica realizada nas Repúblicas do Benin e do Togo, em dois momentos (1996 e 2010), sobre a construção da identidade agudá, enfatizando o papel da fotografia como plataforma privilegiada de observação e de registro de fenômenos sociais visualmente relevantes, que apoia a produção de conhecimento cientificamente controlado sobre as sociedades fotografadas.
Dia 22 de abril
10h- Mesa “Narrativas de Liberdade Negra: trajetórias africanas e afro-brasileiras”
Debates sobre temas da escravidão e da liberdade, através de trajetórias de protagonismos negros em experiências africanas e afro-brasileiras.
Participantes:
Ana Flávia Magalhães Pinto – ativista dos Movimentos Negro e de Mulheres, atualmente é coordenadora da regional Centro-Oeste do GT Emancipações e Pós-Abolição da Anpuh e integrante da Rede de Historiadoras Negras e Historiadores Negros.
Mônica Lima – professora de História da África, coordenadora do Laboratório de Estudos Africanos (LEÁFRICA) da UFRJ. Escreveu o livro Heranças Africanas no Brasil (CEAP,2009).
18h- Oficina “Brincadeiras das Crianças de África”
Criança é criança em qualquer lugar. Todas gostam de brincar, correr, cantar, jogar e ouvir histórias. No Continente Africano não poderia ser diferente. Que tal aprender algumas dessas brincadeiras baseadas nas recolhas e pesquisas realizadas pelo autor Rogério Andrade Barbosa em diferentes países africanos?
Dia 23 de abril
14h- Oficina “Entre a marimba e o piano: músicos e musicalidades negras no Brasil do século XIX”
Ministrada pelo historiador e etnomusicólogo, Rafael Galante. Sua pesquisa envolve a história social das musicalidades afro-brasileiras. O intuito principal é refletir sobre a diáspora das culturas da África Central ocidental no Brasil, tendo em vista a importância primordial de seu legado cultural, artístico e filosófico para a formação das tradições culturais afro-brasileiras.
18h- Mesa de encerramento: “Carolina Maria de Jesus e Lélia Gonzalez. Lugares de negras: produção de conhecimento e possibilidades”
Participantes:
Raquel Barreto – historiadora e pesquisadora especialista nas autoras Angela Y. Davis e Lélia Gonzalez com dissertação sobre o tema. É co-curadora da exposição da Carolina Maria de Jesus, um Brasil para os brasileiros, que acontecerá no Instituto Moreira Salles, em São Paulo, no segundo semestre de 2021.
Fernanda Felizberto – docente do Departamento de Letras da UFRRJ e pesquisadora das narrativas de mulheres negras, presente nas literaturas africanas, negro-brasileira, afro-americana e afro-latina.
Mais informações pelo e-mail geral.projetosculturais@gmail.com
LEIA MAIS:
Cais do Valongo, no Rio, é lugar de visita obrigatória, indica ativista antirracismo