Mostra CineAfroBH destaca filmes de diretores negros

Mostra audiovisual destinada exclusivamente à exibição de filmes produzidos por diretores negros promoverá sessões com exibição de 10 obras

Criada com o objetivo de difundir e incentivar a produção audiovisual de realizadores negros, a Mostra CineAfroBH (MCABH) começa dia 8 de junho e vai até novembro. Haverá exibição de 10 filmes e  sessões itinerantes em ruas e centros de produção cultural nas cidades de Belo Horizonte (MG), no mês de junho, e em julho nas cidades de Salvador e Valença (BA). As sessões de rua serão sediadas próximas às instituições culturais afro-brasileiras. Entre novembro e dezembro acontecerão outras quatro sessões, nos centros culturais e periferias da capital mineira.

Os 10 filmes selecionados para a terceira edição são majoritariamente produzidos por realizadores negros e foram agrupados em quatro programações: Quilombola, Religiosidades, Panorama e Resistência. Entre junho e julho a ATOS Central de Imagens realizará em Belo Horizonte (bairros Grajaú e Arão Reis) e duas sessões na Bahia (em Salvador e Valença), quatro sessões de rua com mestres homenageados. Durante toda a programação o público tem a oportunidade de conhecer e conviver melhor com os mestres de cultura popular residentes em seu bairro,  diretores, artistas locais e convidados ilustres.

primeira exibição de filmes acontecerá no Quilombo dos Luizes, no dia 8 de junho, sábado, entre 18h e 21h, onde serão homenageadas as matriarcas Dona Mara Luzia, Maria Lucia e Júlia, por suas atuações culturais e sociais na condução dessa comunidade quilombola, localizada no bairro Grajaú, na regional Oeste de BH. A comunidade vem de uma longa linha de lideranças femininas, e foi reconhecida em 2018 como Patrimônio Cultural no contexto urbano de Belo Horizonte pelo IEPHA, justamente por ser uma das mais antigas da cidade, com sua origem anterior a 1895 (século XIX), antes mesmo da fundação da capital mineira.

Nesta primeira sessão os filmes exibidos na Programação Quilombola serão:  “Favela em Diáspora” [Gabriela Matos, 21’56, 2017, MG], e “A Grande Ceia Quilombola” [Rodrigo Sena e Ana Stela, 52`, 2017, MA]. Na obra produzida em Belo Horizonte, MG, moradores do Morro do Papagaio são os protagonistas, e relatam por meio de suas vivências como o processo de migração compulsória realizado por um projeto da prefeitura, provocou uma ruptura em suas histórias. Assim, o filme dá voz as memórias de um povo que está á margem do asfalto, mostrando o que resta após uma desapropriação. Já o documentário maranhense, retrata a história do Quilombo de Damásio, uma terra doada por um senhor de engenho a três de suas escravas e que tem no cultivo e extração parcimoniosa de alimentos a base de uma estrutura social que privilegia o grupo. Parte destes saberes é abordado, mostrando como a comida  tem um papel fundamental na coesão do grupo e nas relações sociais presentes.

Já a segunda sessão acontece no dia 29 de junho, entre 18h e 21h, no Terreiro Ilê Wopô Olojukan. Localizado no bairro Aarão Reis, região Norte da capital mineira. Assim, o homenageado da vez será o Babalorixá Pai Sidney, representante do terreiro de candomblé que foi fundado em 1964 pelo Babalorisa Carlos Olojukan. Tombado em Novembro de 1995, como patrimônio Cultural de Belo Horizonte pela Prefeitura Municipal de BH, o espaço é um importante reduto cultural da cidade. Na data, o público poderá assistir aos filmes da Programação Religiosidades, composta por 4 curtas-metragens, são eles: “Road Movie à Moda Norte Mineira” [Alexandre Naval 19’39, 2018, MG]; “A mulher da casa do arco-íris” [Gilberto Alexandre 23`24, 2017/18, ES]; “Kabadio” [Daniel Leite, 16′, 2016, RJ]; e “Humanis Causa” [Lucas de Jesus 19’59, 2018, RJ].

Dirigido pelo mineiro Alexandre Naval, o curta “Road Movie à Moda Norte Mineira” mostra a decadência de uma dançarina que fez muito sucesso na cidade de Montes Claros, em Minas Gerais, na década passada. Ao adentrar em uma viagem de carro, ela vê sua vida e a de todos que estão ao seu redor, passar por transformações profundas. Já no filme “A Mulher da Casa Arco-íris”,o capixaba Gilberto Alexandre apresenta a história de Mãe Dango, sacerdotisa do Candomblé Angola. Sua trajetória é marcada pela ancestralidade herdada de seu pai, que lhe passou os ensinamentos da cultura bantu, e atravessada por episódios de superação e conquistas diante do racismo violento do país. A Casa do Arco-Íris, que ela define como um quilombo, abriga todos os seus filhos e é onde se cultuam os inquices. Assim, acompanhamos um espaço onde se constrói mais um capítulo da história da resistência negra no Brasil.

O olhar investigativo do diretor carioca Daniel Leite apresenta o curta “Kabadio”, que conta a história de personagens reais, habitantes de um pequeno vilarejo muçulmano no coração do Senegal, chamado Kabadio. O local é uma espécie de éden místico protegido por líderes religiosos, sendo o epicentro de vidas que tentam manter suas tradições em meio à guerra civil e ao contrabando de mercadorias. O segundo curta propõe uma reflexão ativa sobre os direitos humanos, sobre brasilidade e sobre a conjuntura atual de nossa sociedade. No ultimo filme exibido nessa noite, “Humanis Causa” o diretor carioca Lucas de Jesus propõe uma reflexão sobre nossa luta por direitos. Na cena cerca de 25 atores refletem sobre nossa realidade atual e através do olhar clinico e único, propiciado pela fotografia do grande cineasta brasileiro Neville D’almeida, somos colocados em uma posição de participante ativo da obra, trazendo assim uma maior relação de espectador-obra.

CIRCULAÇÃO

No sábado, 13 julho, a mostra promove a sua terceira sessão no Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA), situado no Forte da Capoeira, em Salvador, entre 18h e 21h. A Programação Panorama apresenta os documentários “Congado.Doc: do rosário à coroa” [Dandara Andrade, 10′, 2016, MG] , “Dr Mestre João Pequeno de Pastinha” [Guimes Filho, Beto Silva, Gilson Goulart e Pedro Braga, 53’, 2007, SP], “Kabadio” [Daniel Leite, 16’09, 2016, RJ], além de um trecho do filme “PAZ NO MUNDO CAMARÁ: a Capoeira Angola e a Volta que o mundo dá” [Carem Abreu, 15’, 2012, MG]. O homenageado dessa sessão será o mestre João Pequeno, por sua importante e imprescindível contribuição para a cultura popular afro-brasileira, principalmente à capoeira angola. E quem apresentará a sessão será a mestra Nani, neta do mestre João pequeno, que também conduzirá uma roda de conversa com os convidados e presentes.

Dirigido pela mineira Dandara Andrade, o filme “Congado.Doc: do rosário à coroa” trata da festividade do Congado, uma tradição religiosa muito devotada em Minas Gerais, mantida por poucas famílias e que ainda enfrenta muitos obstáculos e preconceitos para manter-se viva. Com raízes no deslocamento compulsório das populações africanas para o Brasil, a manifestação percorre as ruas da cidade mostrando a mistura de elementos de suas crenças e devoção aos santos católicos, expondo o sincretismo de maneira única e emocionante.

Também serão exibidos o curta “Kabadio” e um trecho do media “PAZ NO MUNDO CAMARÁ: a Capoeira Angola e a Volta que o mundo dá” dirigido pela gaúcha erradica em Minas,  Carem Abreu, que é idealizadora e produtora executiva da Mostra CineAfroBH.  Após 11 anos de sua gravação (em 2008) no Forte da Capoeira e em outras 57 locações, nos estados da BA, RJ, PE, AL e MG, o filme será exibido pela primeira vez na Bahia. A narrativa do filme foi construída a partir de entrevistas exclusivas de Mestre João Pequeno de Pastinha, e  mais de 40 mestres capoeiristas, expoentes das culturas populares, para propor a reflexão de qual foi a contribuição afro-brasileira para o desenvolvimento da historia e da cultura do Brasil, pela perspectiva da Capoeira Angola. Uma das mais tradicionais culturas de raiz afro-brasileiras, hoje a capoeira é praticada em mais de 170 países,  como instrumento de paz e integração social. Mas há menos de 100 anos era discriminada e percebida socialmente como uma prática da malandragem. Assim, o filme propõe um olhar sobre quais teriam sido os movimentos realizados pela capoeira para mudar completamente a sua percepção social e também é um registro histórico do cenário da capoeira angola na década passada.

Fechando a programação da exibição em Salvador, será exibido o documentário “Dr. Mestre João Pequeno de Pastinha: a trajetória do negro no Brasil através da Capoeira Angola”, que foca na trajetória de Mestre João Pequeno para contar a história de como a capoeira se fez arte, dança e luta. Dirigido por Guimes Filho, Beto Silva, Gilson Goulart e Pedro Braga, o media como a Capoeira sobrevive malandra para provar que a luta, a poesia, a dança, a música, a religião, a diversão ainda são peças fundamentais para a construção e grandeza do ser humano, enobrece pessoas e faz rejuvenescer um velho capoeirista.

VALENÇA (BA)

quarta sessão da mostra acontecerá na quinta-feira, 25 de julho, de 18 às 21hno Kilombo Tenondê, cidade de Valença,  litoral da Bahia, homenageará o fazer cultural do Mestre Cobra Mansa, da Fundação Internacional de Capoeira Angola (FICA), e integrará a programação do XXIII Encontro Internacional de Capoeira Angola. Na ocasião serão exibidos os filmes da Programação Resistência, composta por curtas produzidos por diretores de Minas Gerais: “Quanto Vale?” [Thiago Nascimento e Danilo Candombe, 10′, 2016, MG], “Cabeceira do Turco” [Cristiano Pereira da Silva 15’19, 2017, MG], “Eu Pareço Suspeito?”[Thiago Fernandes, 27’, 2018, SP], e um trecho do media-metragem “PAZ NO MUNDO CAMARÁ: a Capoeira Angola e a Volta que o mundo dá” [Carem Abreu, 15’, 2012, MG].

Os diretores Thiago Nascimento e Danilo Candombe no curta “Quanto Vale?” propõem uma reflexão sobre uma triste temática, infelizmente, muito atual para os moradores do estado de Minas Gerais e para muitas outras comunidades que estão a margem das ações predatórias de mineradoras e empreiteiras por todo o Brasil. O filme trata da marcha organizada pelo MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens, que percorreu o caminho inverso da lama ao longo da extensão do Rio Doce, iniciando em Regência, no Espírito Santo, até Bento Rodrigues, no distrito de Mariana (MG). Assim, o documentário apresenta a importante marcação da marcha criada para cobrar os responsáveis, reivindicar respostas  e para lembrar do maior crime socioambiental do Brasil.  Já no curta “Cabeceira do Turco” o diretor Cristiano apresenta a comunidade homônima, na zona rural do distrito de São Sebastião do Bom Sucesso (Sapo), em Conceição do Mato Dentro. São fortes e chocantes relatos de moradores sobre as diversas violações de direitos que a mineradora inglesa Anglo American realiza na região.

No filme “Eu Pareço Suspeito?”, o diretor Thiago Fernandes inverte a lente e busca entender os motivos do seu estereótipo ser considerado suspeito, tratando de momentos de enquadros, prisões, invisibilidade, racismo e mortes muito próximas, como meio de se discutir essa vivência infelizmente tão comum para os negros no Brasil. Um trecho de “PAZ NO MUNDO CAMARÁ: a Capoeira Angola e a Volta que o mundo dá”, da diretora e capoeirista Carem Abreu, fecha a noite de exibição de filmes e abre a roda de conversa entre os participantes.

::Serviço::

Programação BH

1ª SESSÃO

Data: 8 de junho de 2019 (Sábado)

Horário: 18h às 21h

Onde: Quilombo dos Luizes (Rua Artur Ferrari, esquina com Alves Pinto Bairro Grajaú, Região Oeste, BH)

FILMES:

– Favela em Diáspora [Gabriela Matos, 21’56, 2017, MG]

– A Grande Ceia Quilombola [Rodrigo Sena e Ana Stela, 52`, 2017, MA]

Mestras Homenageadas: Dona Maria Luzia, Maria Lucia e Júlia

Informações: www.mostracineafrobh.com

2ª SESSÃO

Data: 29 de junho de 2019 (Sábado)

Horário: 18h às 21h

Onde: Terreiro Ilê Wopo Olojukan (Rua Dr. Benedito Xavier, 2030, CEP 31814-654 / Referencia: Na Lateral do shopping Onix, atrás do lava jato, – Bairro Aarão Reis; Região Norte)

Ônibus: 1510 ou 711 Estação São Gabriel / Solimões ou 713 Estação São Gabriel /Lajedo.

Link como chegar: https://moovitapp.com/index/pt-br/transporte_p%C3%BAblico-Rua_Doutor_Benedito_Xavier-Belo_Horizonte-street_10048259-843

Filmes:

– Road Movie à Moda Norte Mineira [Alexandre Naval ,19’39, 2018, MG]

– A mulher da casa do arco-íris [Gilberto Alexandre 23`24, 2017/18, ES]

– Kabadio [Daniel Leite,16’09, 2016, RJ]

– Humanis Causa [Lucas de Jesus,19’59, 2018, RJ]

Mestre Homenageado: Pai Sidney

Informações: www.mostracineafrobh.com

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Redação

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