Carnaval para quem?

O meme “não tem, mas está tendo (Carnaval)” resume bem o que foi a folia de 2022, quando os principais destinos cancelaram os blocos e trios de rua, devido a pandemia da Covid 19, mas permitiram festas privadas. Com aglomeração em locais fechados e com ingressos que chegaram a mais de R$ 200, o que se viu foi um Carnaval fora do seu contexto tradicional: popular, com expressividades culturais locais, que traz muito da identidade – sobretudo – periférica e preta em sua origem.  

De um hiato histórico sem uma festividade democrática, pulou-se para uma folia que foi, sem dúvidas, uma das mais elitistas da história. Ainda que noutro tempo existissem os tradicionais bailes de clubes e festas de galas e esses, até um certo momento, ditaram a folia em algumas localidades, os blocos atravessaram as frestas, reunindo foliões do afoxé, dos maracatus rurais e de baques virados, das marchinhas e de enredo que construíram e solidificaram o que são essas festividades até hoje.  

Além de abarcar a população, por trás da folia há uma economia “invisível” que fomenta e gera fonte de renda desde as costureiras de fantasias, abadás e assessórios aos vendedores de bebidas e comidas formais e informais, que se escoou este ano e sabe-se que a camada que se atinge neste cenário é a mais preta da sociedade. Neste ano, o Carnaval de rua foi asfixiado, não pelas máscaras cirúrgicas e isolamento social, mas pela privatização de uma festa popular. Então, pode até pular o Carnaval, desde que pague (e caro). 

 

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Joyce Nascimento

Jornalista por formação e atuação, desenvolve escritas a partir do que sente, do que vivencia e de suas pesquisas. Sua caminhada é também laboratório de informações. Sambista, ex-passista da Mangueira e do Paraíso do Tuiutí, e candomblecista, visa escurecer as coisas versando com a cultura de sua origem afro-brasileira e com povos tradicionais de matriz africana

Artigos: 18

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