10 livros para ler na quarentena do Coronavírus

Guilherme Soares Dias

Se o turismo foi a primeira área afetada pela pandemia de coronavírus que afeta o mundo, é hora de viajarmos para novos lugares de outras formas. E nada melhor do que os livros para nos conduzir para esses deslocamentos, sem sair de casa e respeitando a quarentena, indicada pelos especialistas como a melhor prevenção contra o vírus. O Guia Negro consultou amigos e militantes do movimento negro que indicaram livros considerados obrigatórios para você aproveitar esse tempo em casa. Confira:

1 – MEMÓRIAS DA PLANTAÇÃO – EPISÓDIOS DE RACISMO COTIDIANO – GRADA KILOMBA

Indicação de Marcela do Vale, advogada, membro da Associação de Advogados Negros da Bahia e especialista em Direito do Trabalho

O livro expõe a violência contida em diversas situações de racismo, desnudado e desmontando cada uma.

2 – E EU NÃO SOU UMA MULHER? MULHERES NEGRAS E FEMINISMO – BELL HOOKS

Indicação de Julia de Miranda, jornalista, antirracista e anticapitalista, feminista negra e colunista da Revista AzMina

O trabalho dessa mulher mudou/muda a minha vida. Uma obra fundamental sobre a mulher negra e os preconceitos socioculturais ainda presentes. Clássico!

3 – CAROLINA, UMA BIOGRAFIA – TOM FARIAS

Indicação de Dandara Renault, produtora cultural

Uma biografia é uma pérola no gênero literário. Jornalista, Tom Farias mergulha e esmiúça de modo mágico a vida de Carolina Maria de Jesus. Uma obra em que nos sentimos lado a lado da protagonista, vivendo junto com ela cada alegria e tristeza. A biografia de Carolina é tão necessária quanto suas obras. O livro é bem conduzido e concorreu ao prêmio Jabuti.

4 – O NASCIMENTO DE JOICY: TRANSEXUALIDADE, JORNALISMO E OS LIMITES ENTRE REPÓRTER E PERSONAGEM – FABIANA MORAES

Indicação de Neon Cunha, mulher negra, ameríndia e transgênera. Publicitária e ativista independente.

O livro é arrebatador e conta a história da transexual Joicy, ex-agricultora que procura o serviço público de saúde para adequar seu corpo masculino ao feminino que deseja para si. Também fala sobre os bastidores da reportagem, vencedora do Prêmio Esso, e expõe a complicada relação com sua personagem, além de apresentar um ensaio no qual defende um jornalismo mais subjetivo.

5 – MINHA HISTÓRIA – MICHELE OBAMA

Indicação de Cintia Ramos, turismóloga e sócia da Diaspora.Black

É um livro leve, de leitura fácil e inspirador! Fala sobre algo importante que é valorizar nossos passos e caminhos. “Sua história é o que você tem, o que sempre terá. É algo para se orgulhar!”, diz Michele na obra.

6 – QUARTO DE DESPEJO – CAROLINA MARIA DE JESUS

Indicação de Zezé Menezes, bióloga, ativista feminista preta e apaixonada pela pretitude

Ler o que Carolina escreveu há sessenta anos e perceber que nos diz respeito aos dias atuais também: a invisibilidade dos moradores da favela, o racismo, sempre presente e mediando as relações sociais; a fome e as estratégias pela sobrevivência. Em muitos trechos Carolina relata que não está se sentindo bem, mas sai para catar papelão, pois precisa alimentar as crianças. O livro traz ainda a violência policial, os abusos dos poderosos (ela relata a presença de políticos na comunidade apenas em época de eleição), as formas de socialização, a migração nordestina, o afeto, a infância das crianças da favela, enfim, acho que ela consegue desenhar um quadro social e político do país. “Algumas vezes eu choro quando leio este livro”, diz Zezé.

7 – IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO – AILTON KRENAK

Indicação de Fabiano Maranhão, mestre em Educação, ativista cultural e ativista negro.

“Enquanto isso, a humanidade vai sendo deslocada de uma maneira tão absoluta desse organismo que é a terra. Os únicos núcleos que ainda consideram que precisam ficar agarrados nessa terra são aqueles que ficaram esquecidos pelas bordas do planeta, mas margens dos rios, nas beiras dos oceanos, na África, na Ásia ou na América Latina. São caiçaras, índios, quilombolas, aborígenes”. Fabiano afirma que indica o livro pela provocação de nos pensar natureza e compartilhar saberes/intelectualidade indígena.

8 – DICIONÁRIO DA ESCRAVIDÃO E LIBERDADE – LILIA SCHWARCZ E FLAVIO DOS SANTOS GOMES

Indicação de Suiane Costa, enfermeira e professora, doutora em Educação

O livro fala sobre movimentos sociais abolicionistas, porque a agitação negra marcou a luta contra a escravidão na sociedade brasileira. Rebeliões, crimes contra senhores, fugas e outras formas de ação sempre estiveram presentes. Um exemplo é a Revolta dos Malês ocorrida em Salvador, em 1835, onde negros de maioria mulçumana lutaram por cerca de 4 horas pelas ruas da cidade e que tinha entre as líderes Luiza Mahin.

9 – COMO SE LIVRAR DE UM RELACIONAMENTO ORDINÁRIO – TIA MÁ (MAÍRA AZEVEDO)

Indicação de Maíra Azevedo, jornalista e influenciadora digital

“O livro fala da necessidade de termos coragem de romper com esse ciclo violento com a gente. Inclusive, quando eu digo a gente, é comigo também. Que eu tenha coragem de romper com toda e qualquer relação que me adoeça, com toda situação que não me deixe feliz. Que tenhamos coragem de entender que podemos ser felizes. Porque aprendemos: ‘é impossível ser feliz sozinho’, mas podemos ser felizes com um amigo, com uma amiga, tem outros tipos de companhia. O afeto que mata não me faz feliz”, disse Maíra, em entrevista à Revista AzMina.

10 – UM DEFEITO DE COR – ANA MARIA GONÇALVES

Indicação de Thais Folego, editora da Revista AzMina, membra da Marcha das Mulheres Negras

“Se tem um livro bom para um período de solitude ele é “Um defeito de cor”. Pode ser lido como romance ou como história (a protagonista teria sido inspirada na história de Luisa Mahin, mãe de Luiz Gama). Eu leio como um livro sobre travessias. Um bom livro para atravessar esse período de coronavírus que vamos superar apenas se entendermos o poder do coletivo. PS: e aproveite para ler antes da supersérie da Globo baseada no livro, que será exibida em 2021”, afirma Thais. Um complemento: esse livro é uma espécie de bíblia (são 900 páginas), obrigatório e que merece ser consultado de quando em quando.

 

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Redação

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