Mostra de Cinemas Africanos traz a São Paulo 24 filmes de 14 países do continente

Evento promove janela de exibição da cinematografia africana contemporânea com títulos inéditos 

Mostra de Cinemas Africanos entra em sua quarta edição, desta vez no CineSesc em São Paulo, de 10 a 17 de julho. Durante uma semana, o público poderá conferir uma seleção de filmes africanos e afrodiaspóricos reconhecidos em grandes festivais e respaldados pela crítica e públicos internacionais.

A Mostra reúne 24 títulos procedentes de 14 países, com atenção especial à produção contemporânea. A maioria dos filmes é inédita no Brasil, chance rara de assistir a importantes produções que circularam em grandes festivais e talvez nunca cheguem ao circuito comercial do Brasil. Ao total, são 15 longas e 9 curtas de ficção e documentário projetados gratuitamente no CineSesc.

A sessão de abertura contará com o longa-metragem Supa Modo, do diretor queniano Likarion Wainaina, uma produção Quênia/Alemanha. Por sua delicadeza, ternura e maestria narrativa, é favorita do público internacional por sua declaração de amor ao cinema por meio da história de uma garota de nove anos com uma doença terminal que sonha em ser uma super-heroína. A sessão acontece em parceria com o Goethe-Institut, no dia 10 de julho, às 20h30, com entrada gratuita.

CURADORIA DESTACA PROTAGONISMO FEMININO

A proeminência das mulheres na programação da Mostra reflete o crescimento exponencial no século 21 de filmes realizados por mulheres na África e na diáspora. As jovens diretoras africanas dominam gêneros tão heterogêneos como a comédia adolescente (Kasala!, da nigeriana Ema Edosio), a ficção científica afrofuturista (Afronautas, de Nuotama Bodomo, e Pumzi, de Wanuri Kahiu), o curta-metragem poético (Irmandade, da tunisiana Meryam Joobeur), o ensaio autobiográfico (Lua Nova, de Philippa Ndisi-Hermann) ou o melodrama experimental (Ame Quem Você Ama, da sul-africana Jenna Bass).

Outras cineastas optam por usar o cinema como ferramenta de denúncia e espaço de abertura de diálogo, sem deixar de lado o entretenimento. É o caso do último trabalho de Wanuri Kahiu, Rafiki, que apresenta através de uma história de amor lésbico a perseguição à comunidade LGTBQI no Quênia; de Sofia (de Meryen Benm’Barek-Aloïsi) um melodrama social centrado na situação vulnerável da mulher violentada no Marrocos (ganhadora em Cannes do Prêmio de melhor roteiro no Un Certain Regard), ou o poderoso documentário sobre a força do ativismo para se opor a práticas de extração neocoloniais na Libéria (A Luta de Silas, de Hawa Essuman e Anjali Nayar).

HOMENAGEM A DJIBRIL DIOP MAMBÉTY

Em reconhecimento aos pioneiros dos cinemas africanos, serão projetados dois longas de ficção do senegalês Djibril Diop Mambèty (1946-1998), tio de Mati Diop, primeira diretora africana negra a competir pela Palma de Ouro no último Festival de Cannes. De Mambéty, autor iconoclasta, irreverente e controverso, Touki Bouki (1973) e Hyènes (1992) são dois clássicos universais que serão exibidos em cópias recentemente restauradas e que ainda hoje ressoam por seus temas, mensagens e estilos cinematográficos.

ATIVIDADES PARALELAS

Durante uma semana, a Mostra de Cinemas Africanos promoverá quatro sessões comentadas, sempre com especialistas e críticas de cinema. Receberemos as pesquisadoras Lúcia Monteiro, Kênia Freitas, Alessandra Meleiro e Jusciele Oliveira, que mediarão bate-papos com a plateia de filmes selecionados (ver programação). Teremos também uma edição do Cinema da Vela, onde as curadoras Ana Camila e Beatriz Leal, acompanhadas de Lúcia Monteiro e Jusciele Oliveira, conversarão sobre a desconstrução de estereótipos nos cinemas africanos contemporâneos. Pesquisadora e curadora de diversos festivais no mundo, Beatriz Leal oferecerá também o curso “Cinemas Africanos em Perspectiva”, com o objetivo de contextualizar esta cinematografia para o público interessado.

NARRATIVAS URBANAS, IMAGINÁRIOS OUTROS E CULTURAS DIVERSAS

Com uma curadoria que ressalta a diversidade de gêneros e formatos dos cinemas africanos, a Mostra destaca em sua programação as experiências do cotidiano em grandes cidades africanas, absorvidas por culturas diversas que criam imaginários outros do continente através do cinema, com inovação e originalidade.

Servindo-se dos meios da poderosa indústria de cinema sul-africana, Michael Mathews e o nigeriano radicado na África do Sul Akin Omotoso nos estimulam a pensar sobre os caminhos da sociedade sul-africana pós-apartheid. O primeiro com uma estimulante alegoria em formato western (Five Fingers for Marseilles, Michael Matthews,) e o segundo através de um drama baseado em histórias reais de pessoas em situação de rua em Joanesburgo (Vaya, de Akin Omotoso). Já na região do Magrebe, temos uma história íntima e compassiva de um pai que reavalia sua vida ao se reencontrar com seu filho que abandonou do outro lado do Mediterrâneo (Look at Me, de Néjib Belkadhi). O longa, exibido no Festival de Berlim 2019, é um bom exemplo da força da indústria cinematográfica da Tunísia.

Diante do conjunto de heróis revolucionários de carne e osso que estiveram à frente das independências na África, o imaginário atual dos jovens africanos é composto por heróis dos quadrinhos e do cinema. Além de Supa Modo, outros filmes trazidos pela Mostra oferecem um panorama desses imaginários. Samantha Biffot nos revela, no documentário O Africano que Queria Voar, o gabonês Luc Bendza, primeiro campeão negro de wushu da história. Sua paixão pelo Kung Fu o levou a seguir os passos dos seus heróis na ficção (Bruce Lee e Wag Yu) e voar para a China para realizar seu sonho e acabar trabalhando com Jackie Chan nas telonas. O burquinense Cédric Ido, residente na França, completa esse quadro de referências com o instigante As Espadas, usando a linguagem das artes marciais para refletir sobre o futuro do planeta, também em uma perspectiva afrofuturista.

O papel da música como ingrediente da identidade cultural e como espaço expressivo íntimo e de interação social são os fios que unem os documentários Bakosó – O Afrobeats de Cuba e A Dança das Máscaras com o média-metragem Nora. Coreógrafa e bailarina de fama internacional, Nora Chipaumire volta ao seu país (Zimbábue) para compor um relato autobiográfico dançado, de imensa força comunicativa. De Moçambique, país vizinho, A Dança das Máscaras (Sara Gouveia) nos apresenta a Atanásio Nyusi, conhecido por sua destreza na dança tradicional Mapiko e nos força a refletir sobre a história do país desde a colonização. Bakosó, de Eli Jacobs-Fantauzzi, nos coloca em contato com um novo estilo musical afro-cubano que está dominando as ruas de Cuba, fruto da abertura internacional do país e das possibilidades de conexão com a ancestralidade africana.

Por fim, o curta-metragem, formato inovador especialmente querido pela nova geração de realizadores africanos, ocupa um lugar destacado na Mostra com duas sessões temáticas: uma centrada no movimento do Afrofuturismo, e outra sobre as histórias íntimas mulheres e homens jovens nas cidades contemporânea da África e da diáspora. Estas novas vozes e narrativas de juventude transmitem a pulsão de um continente onde a média da população não chega aos 20 anos, e cuja explosão demográfica está apenas começando.

SERVIÇO

Mostra de Cinemas Africanos – Edição São Paulo

de 10 a 17 de julho de 2019

CineSesc São Paulo (Rua Augusta, 2075)

Gratuito

Mais informações: www.facebook.com/mostradecinemasafricanos

PROGRAMAÇÃO

10 de julho (quarta-feira)

20h30- Supa Modo

(entrada gratuita)

11 de julho (quinta-feira)

15h- Nora + Bakosó – Afrobeats de Cuba

17h- A Dança das Máscaras + debate com Jusciele Oliveira

19h- Ame Quem Você Ama

19h- CURSO Cinemas Africanos em Perspectiva (dia 01)

21h- Rafiki

12 de julho (sexta-feira)

14h30- Vaya

17h- Silas

19h- Olhe pra mim

19h- CURSO Cinemas Africanos em Perspectiva (dia 02)

21h- Kasala!

13 de julho (sábado)

15h- Sessão de curtas “Narrativas Urbanas”: Koka, O Açougueiro; O Rei do Mercado; Pela Ternura

17h- Irmandade + Lua Nova

19h- Nora + Bakosó – Afrobeats de Cuba

21h- Sofia + debate com Alessandra Meleiro

14 de julho (domingo)

14h30- As Espadas + O Africano que Queria Voar

16h30- Sessão de curtas “Afroturismo”: Pumzi, Afronautas, Gagarine, As Espadas + debate com Kênia Freitas

18h30- Cinco Dedos por Marselha

21h- Olhe pra mim

15 de julho (segunda-feira)

15h- Supa Modo

17h- Kasala!

19h- Sofia

21h- Touki Bouki + debate com Lúcia Monteiro

16 de julho (terça-feira)

15h- Silas

17h- A Dança das Máscaras

19h- Irmandade + Lua Nova

19h30 – Cinema da Vela

21h- Cinco Dedos por Marselha

 

17 de julho (quarta-feira)

14h30- Vaya

17h- Ame Quem Você Ama

19h- As Espadas + O Africano que Queria Voar

21h- Hienas

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Redação

O Guia Negro faz produção independente sobre viagens, cultura negra, afroturismo e black business

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