Museu da Imigração tem exposição sobre africanos que vivem em São Paulo

O Museu da Imigração (MI), em São Paulo, realiza a exposição “África em São Paulo”, com retratos feitos pelo fotógrafo Bob Wolfenson e entrevistas realizadas pelo jornalista Naief Haddad. A mostra é uma forma também de mudar a narrativa do espaço, que sempre privilegiou migrantes europeus em seu espaço.

Desenvolvida nos últimos cinco anos, a mostra reúne 43 fotos que formam um painel variado e surpreendente desses migrantes, que inclui alguns refugiados. São mulheres e homens de 21 países do continente africano, entre eles, África do Sul, Angola, Camarões, Chade, Egito, Guiné-Bissau, Moçambique, República Democrática do Congo, Senegal e Tanzânia.

O desenho da exposição surgiu durante uma reportagem sobre emprego para a Folha de S.Paulo em 2018, quando Naief e Bob andaram muito pelo centro de São Paulo e perceberam a presença e a diversidade deste grupo pelas ruas. “Bob e eu ficamos fascinados pelo trabalho dos africanos, que vendiam de máscaras a turbantes. Mergulhamos nesse assunto e, desde então, conhecemos pessoas incríveis, que formam um mosaico da nova imigração na cidade”, conta Naief Haddad.

De culturas, religiões e classes sociais diferentes, essas pessoas reinventaram suas histórias ao chegar a São Paulo, adotaram outras profissões e formaram novas famílias. Além das fotos em grandes formatos, em cores vibrantes ou preto e branco, a exposição traz depoimentos sobre os motivos que fizeram os retratados deixarem o país de origem, a saudade da terra natal e a realidade no Brasil.

“É uma exposição com potência, com peso!”, define Bob Wolfenson. “Esse trabalho nasceu de uma conversa minha com Naief sobre a adaptação, a riqueza da produção e da vida deles. São desses encontros mais fortuitos que saem as grandes ideias. O Naief trouxe os primeiros personagens, depois a jornalista Luly Zonta entrou na história para buscar novas pessoas e tudo se desenvolveu. Eu fui um pouco ao sabor dos acontecimentos, não tinha uma ideia pré-concebida de como fazer as fotos. Quando vejo esse conjunto todo pronto, percebo a beleza e a integridade deste trabalho”, revela o fotógrafo.

Com concepção cenográfica do arquiteto André Vainer e programação visual de Thea Severino e Marcio J. Freitas, a exposição traz recursos audiovisuais que permitirão ao visitante uma imersão no continente africano. Será possível, inclusive, ouvir trechos dos relatos na voz e sotaque dos personagens. O escritor Jeferson Tenório e o ator e ativista Vensam Iala, que é especialista em literatura africana, assinam os textos de apresentação da mostra.

Entre as pessoas eternizadas pelas lentes de Bob Wolfenson, está uma princesa. Filha do rei da tribo Papel, Madalena Nanque nasceu na Guiné-Bissau, em 1979, e chegou ao Brasil em 1998, cheia de sonhos, mas sem mordomia. Formou-se em teologia e pedagogia e sua vida paulistana é de muito trabalho.

“Juntei minhas economias e vou me mudar para o Brasil. Quero ser escritor”. Foi com essas palavras que o angolano João Pedro Canda avisou seu pai sobre a mudança de continente. A travessia ocorreu em 2013, motivada não apenas pelo projeto literário de vida, mas também pelo temor da política repressora vigente em Angola de 1979 a 2017. Em São Paulo, o autor de sete livros também criou o instituto Literáfrica.

Formado em música em Alexandria, Tarek Sabry se apresentava como saxofonista em hotéis no Egito. Lá, conheceu a brasileira Claudia em 2011 e se apaixonou. As viagens foram constantes. Em 2018, já com dois filhos, o casal decidiu permanecer no Brasil. Entre os convidados do projeto, Tarek foi o único que disse nunca ter sofrido preconceito racial ou xenofobia.

A exposição de Bob e Naief mescla rostos, países e idades. Exemplo disso é a inquieta camaronesa Mama Louise Edimo: “Aos 75, tenho a sensação de que há mais 75 pela frente”. Aos 12, ela foi enviada pela família para estudar na França. Anos depois de se formar em jornalismo em Paris, tornou-se produtora musical. Nos anos 1970, resolveu viver no Brasil, que conhecia por meio dos discos. Hoje, ela é uma referência da cultura de Camarões em São Paulo.

Com mais de 50 anos de carreira, Bob Wolfenson tem trabalhado com diversos gêneros da fotografia. Uma das referências nacionais como retratista e fotógrafo de moda, ele transita entre projetos artísticos e publicidade. Já expôs em museus, como o Masp, e lançou livros como “Jardim da Luz” (1996), “Belvedere” (2013) e “Desnorte” (2021).

Jornalista há 25 anos, Naief Haddad é repórter especial da Folha de S.Paulo, onde exerceu diversas funções, como editor de projetos especiais e editor de Turismo. Coordenou a coleção 100 Anos de Fotografia pelas Lentes da Folha.

Serviço:

Exposição África em São Paulo

Data: 19 de novembro de 2022 a 12 de março de 2023

Local: Sala de exposições temporárias do Museu da Imigração

Museu da Imigração

Rua Visconde de Parnaíba, 1.316 – Mooca – São Paulo/SP (Próximo ao Metrô Bresser-Mooca)

Tel.: (11) 2692-1866

Funcionamento: de terça a sábado, das 9h às 18h, e domingo, das 10h às 18h (fechamento da bilheteria às 17h)

R$ 10 e meia-entrada para estudantes e pessoas acima de 60 anos | Grátis aos sábados

Acessibilidade no local | Bicicletário na calçada da instituição | Não possui estacionamento | Próximo à estação Bresser-Mooca

www.museudaimigracao.org.br

LEIA MAIS:

Compartilhe:
Avatar photo
Redação

O Guia Negro faz produção independente sobre viagens, cultura negra, afroturismo e black business

Artigos: 706

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *