Cinco destinos que todo viajante negro precisa conhecer

Programar uma viagem e levar em consideração lugares mais seguros pensando no próprio fenótipo é uma preocupação comum de viajantes negros e, embora isso seja de “praxe”, contém uma boa dose de absurdo nesta realidade. Nós do Guia Negro acreditamos que ter informações sobre como é ser negro em determinado lugar é primordial, mas também sabemos que o racismo é um problema de quase todo o planeta e não gostaríamos que ninguém deixe de ir a um lugar por conta dele.

Pensando nesse cenário complexo, é importante trazer novas perspectivas para fomentar mais pretos com oportunidades sadias de vivências turísticas e um turismo acolhedor. Iléia Valle e Amina Bawa são duas mulheres pretas e brasileiras que compartilharam suas melhores experiências a partir do recorte racial e nos ajudaram a elaborar uma lista de lugares que todas as pessoas negras deveriam conhecer.

Confira:

Destinos nacionais 

1 – Salvador 

É praticamente impossível pensar em rotas de pertencimento e deixar a capital da Bahia de fora dessa lista. Para Iléia, por exemplo, viajar para Salvador é se conectar com a sua ancestralidade africana e sinônimo de pausa da rotina para a busca do reequilíbrio. “Quando eu não estou bem e preciso me reenergizar, a Bahia é, sem dúvidas, o destino que me traz acolhimento e forças para lidar com aspectos raciais vivendo na cidade do Rio de Janeiro e trabalhando em um meio tão embranquecido”, constata.  

Salvador também está entre as indicações da Amina, no entanto, ela traz visões interessantes de situações vivenciadas quando esteve no lugar. A jornalista observou que nos pontos turísticos via muitos negros trabalhando na condição de servir, mas, também, tantos outros circulando como turistas. Porém, foi estranho e engraçado, ao mesmo tempo, porque as pessoas ainda a tratavam como turista por ser uma negra retinta.  

É importante lembrar que, apesar ter maioria da população negra (cerca de 80%), a capital baiana vive cenas diárias de racismo e tem, inclusive, um apartheid social, com pessoas negras vivendo em bairros periféricos e brancos nos bairros mais ricos. O antropólogo e curador de arte Hélio Menezes, que é soteropolitano e vive em São Paulo, disse ao Guia Negro Entrevista que Salvador é a cidade mais negra no país, mas é muito racista.

Iléia Valle. Foto: Arquivo pessoal

Roteiro: 

  • Pelourinho
  • Museu Afro
  • Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos
  • Plataforma 
  • Itapuã

Leia mais: Roteiro Salvador: o que fazer em sete dias

2 – Parque Nacional Chapada dos Veadeiros (GO)

Situado em Goiás, com acesso pelas cidades Alto Paraíso e São Jorge, a Chapada dos Veadeiros foi um dos lugares que surpreendeu positivamente Iléia. Apesar de não encontrar tantas pessoas negras como ela, a presença de uma guia, que ofereceu um turismo sem perspectiva embranquecida, fez toda diferença para a educadora. Iléia indica no destino a hospedagem no Quilombo Kalunga. “Foi muito gratificante, porque a gente recalcula a rota e vê que temos lugar no mundo”, afirma.  

Iléia Valle. Foto: Arquivo pessoal

Roteiro: 

  • Quilombo Kalunga 
  • Cachoeira do Prata 
  • Cachoeira Santa Bárbara 
  • Vale das Araras 

3 – Ubá (MG)

Conhecida como Cidade Carinho, Ubá fica no interior de Minas Gerais e é um dos destinos indicados por Amina. Por ser uma cidade pequena, com um pouco mais de 115 mil habitantes, e ter concentrado a maior parte de pretos escravizados, a região abriga uma população negra mais numerosa, o que trouxe mais conforto e reconhecimento do que as grandes cidades mineiras como Juiz de Fora, por exemplo. “O interior é bom pra conviver com pessoas mais próximas a mim, lá pude ver minha avó e fazer atividades ao ar livre, como ir a cachoeira. Há, no lugar, outras pessoas pretas por perto que me deixaram mais à vontade e, dessa forma, pude observar hábitos e como as pessoas vivem na região”, comenta.  

Roteiro: 

  • Pedra Redonda 
  • Horto Florestal 
  • Antiga Estação Ferroviária de Ubá 

Destinos internacionais 

4 – Marrocos  

Bem ao norte do continente africano, Marrocos também está bem próximo da Europa, fazendo fronteira com a Espanha. “A experiência foi muito acolhedora justamente por ter muita gente diferente e a pluralidade me trouxe segurança, mesmo sendo preta. Me senti à vontade também por ter muçulmanos e isso trouxe muito da cultura do meu pai, que era um homem muçulmano preto”, afirma Amina. É importante lembrar que o turismo no Marrocos também enfrenta questões desafiadoras pelo racismo sofrido por alguns negros mais retintos.

Amina Bawa. Foto: Arquivo pessoal

Roteiro: 

  • Marrakesh 
  • Souks (mercados tradicionais da região) 
  • Passeio no deserto 

5 – Cabo Verde 

Cabo Verde é um arquipélago próximo a costa noroeste do continente africano. Lugar de maioria preta, Amina conheceu algumas das 10 ilhas vulcânicas que constituem o país. Porém, em algumas ilhas, as etnias variam muito, segundo ela, por conta da miscigenação com o colonizador. Um aspecto que lhe chamou atenção foi a quantidade de publicidade preta que viu pelas localidades. “Há pessoas pretas nas TVs, nos cartazes, em todos os lugares. Mais do que uma experiência turística, eu me vi em qualquer lugar que eu fosse e ninguém me olhava estranho. Várias pessoas falavam em crioulo comigo e isso foi muito bom”, explica.  

Roteiro: 

  • Santo Antão (ilha indicada para escaladas e caminhadas em montanhas)
  • São Vicente – Mindelo (ilha onde há um pouco do Brasil, com efervescência cultural e gastronômica)

 

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Joyce Nascimento

Jornalista por formação e atuação, desenvolve escritas a partir do que sente, do que vivencia e de suas pesquisas. Sua caminhada é também laboratório de informações. Sambista, ex-passista da Mangueira e do Paraíso do Tuiutí, e candomblecista, visa escurecer as coisas versando com a cultura de sua origem afro-brasileira e com povos tradicionais de matriz africana

Artigos: 18

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