Quando a hospitalidade brasileira será antirracista?

Hospitalidade na minha opinião progressista-futurista será o futuro da hotelaria. Muitos acreditam ser a mesma coisa, mas são diferentes. Hotelaria envolve muito mais a gestão do meio de hospedagem, com o foco maior em olhar para números e custos do que focar no principal para esta gestão ser eficiente: o cliente. A hospitalidade tem este foco, pois o principal conceito da mesma é o bem receber, acolher, foco no bem estar de quem está no seu meio de hospedagem. E como ainda estamos a passos lentos desta evolução, nós, turistas negros, somos os maiores prejudicados quando viajamos.

Meios de hospedagem, na maioria da vezes hotéis, são os locais onde passamos o maior tempo de uma viagem, principalmente a lazer. E sofremos várias situações de racismo em viagens e hospedagens, pois vivemos num país estruturalmente racista, no qual alguns setores nem iniciaram a reflexão, conscientização, para evitar que estas situações aconteçam com viajantes negros. E muitos hotéis, meios de hospedagem ainda estão num passo a atrás, na negação que aconteça racismo nos seus estabelecimentos. Para estes, basta fazer uma busca simples na internet com as palavras “racismo hotel” para ver os resultados. Claro que para um negacionista convicto, não vai adiantar, pois vai querer provar que não foi racismo.

A hotelaria brasileira foge da reflexão sobre o racismo pelo menos desde 1950, quando a primeira lei antirracista do país teve origem em um caso de racismo em um hotel de luxo no centro de São Paulo. Hoje, 71 anos depois ainda estamos praticamente com o mesmo cenário, sem nenhuma reflexão ou ação importante para mudar. O problema e solução é que nós, viajantes continuaremos a viajar, pois é nosso direito de estarmos onde quisermos, por nosso mérito e vontade. O problema será para os meios de hospedagem pois não aceitaremos mais sofrer racismo em nossas viagens. Vamos denunciar e exigir providências. Se o seu hotel não estiver preparado, sofrerá o desgaste da imagem de ser conivente com o racismo. 

Para nós negros, falar de racismo não é prazeroso, pois nos traz lembranças de situações dolorosas e injustas. Como hoteleiro, vejo o quanto ainda é injusto um turista negro ficar preocupado quando faz sua viagem se alguém vai confundi-lo com funcionário do hotel, de ter olhares de reprovação por ser o único no ambiente , ter seus dados verificados duplamente por estar em uma categoria melhor de apartamento, ficar preocupado se suas crianças não serão confundidas com pedintes … Essas são apenas algumas das situações que passamos ainda hoje e precisam mudar, pra ontem.

Inspirado na sabedoria dos nossos ancestrais , estamos nos aquilombando para criar soluções , para nos unir com aqueles que desejam fazer parte da solução. Se o seu meio de hospedagem quer nos proporcionar a hospitalidade antirracista que tanto desejamos, com certeza, terá a nossa preferência, pois nós negros viajaremos muito, principalmente, para nos reconectarmos com nossa história por meio do afroturismo. E cabe a você continuar sendo parte do problema ou da solução.

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Hubber Clemente

Negro, paulistano, que ama sua cidade, principalmente o centro, local de importância histórica e ancestral para o povo negro, onde também fica sua escola de samba do coração, a Vai Vai. Hoteleiro por vocação e paixão, com mais de 22 anos de carreira no setor. Ativista, militante, divulgador do AFROTURISMO como caminho de inclusão racial, diversidade, resgaste histórico e conexão ancestral por meio do turismo, visando uma sociedade melhor e a mais justa. Fundador da iniciativa Negros e Pretos Afro Turismo Afro Hotelaria, Co fundador Papo de Hoteleiro ,integrante da comunidade de inovação Inovadores Inquietos, Coletivo pelo Afroturismo, do Comitê da Diversidade no Turismo e apoiador de parcerias do Coletivo Quilombo Aéreo

Artigos: 11

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