Melhor época para visitar a capital baiana tem efervescência cultural e eventos de fazer cair o queixo; confira a lista:
Guilherme Soares Dias
Amo viajar e dar dicas de viagem e se pudesse te dar uma, apenas uma, seria: vá passar o verão em Salvador pelo menos uma vez na vida! Isso mesmo. É uma sugestão de cidade brasileira que vive uma efervescência cultural única nessa época do ano e que acolhe todos os turistas muito bem.
Não adianta pensar que não é para você, que pode pegar umas férias e passar os 30 dias lá. Não vai se arrepender, garanto. Vai voltar sem ter feito tudo e confirmando que existe uma diferença entre hospitalidade e a receptividade baiana (de um nível muito mais alto). E, no meio disso tudo, terá momentos mágicos, de coisas que só existem lá e ficará com aquela sensação de queixo descolado do rosto e um “caramba” preso na garganta. Passei esse verão de 2018 por lá e destaco aqui os meus doze momentos “uau” da temporada:
1 – Balé Folclórico da Bahia
Um corpo de balé contemporâneo composto apenas por negros. Eles vestem branco e encenam danças de orixás. Apresentaram-se no show “Por do som” que Daniela Mercury faz tradicionalmente todo dia 1 de janeiro. A reação foi de não acreditar que aquilo existia e de se emocionar com a beleza da encenação. Acabei não conseguindo vê-los no teatro, mas há apresentações quase diárias durante o verão. Confira mais aqui.
2 – Missa terça-feira na Igreja Nossa Senhora Rosário dos Pretos
“Não é mix com candomblé. A igreja autoriza cada lugar a incorporar elementos da cultura local na missa. Aqui a gente insere o tambor”, explica didaticamente o jovem responsável pelas informações, que anuncia que todas as terças-feiras às 18h há missa com percussão na Igreja Nossa Senhora Rosário dos Pretos (Largo do Paissandu, s/n, Pelourinho). Independente dele dizer que não há ligação com a religião de matriz africana, ela é visível. A missa é frequentada por mães de santos; o padre faz uma dancinha que lembra as do candomblé; o batuque dá um arrepio e energia especial; as músicas são pops (“um abraço negro, um sorriso negro traz felicidade…”). Você não vai acreditar que isso existe de fato, até estar lá.
3 – Beleza negra
A Noite da Beleza Negra, concurso que elege todos os anos a Deusa do Ébano, do bloco afro Ilê Aiyê é uma grande celebração da beleza preta. Os negros da capital baiana vão vestidos de gala, com seus turbantes, blacks, camisas e peças de motivos africanos desfilando quase anonimamente seus reinados de príncipes, princesas, reis e rainhas africanos. Todos produzidos para fazer jus ao nome da festa. Todos presentes para ver a coroação da rainha do bloco. Não é um concurso de beleza, mas de afirmação e representatividade. O evento ocorre geralmente em janeiro, no pré-carnaval. É obrigatório para quem visita a cidade. Veja mais do relato da festa desse ano.
4 – Trem da Suburbana
Uma estação inglesa parada no tempo. Um trem que mais parece uma sucata grafitada. Tarifa de R$ 0,50. Público quase que 100% negro. Trajeto do centro para a periferia, margeando o mar, ladeando o morro com as comunidades. Parece inacreditável que essa estrutura esteja funcionando desse jeito nos dias atuais, mas está. Tudo tão surpreendente, original e belo que vale uma visita. Para fazer esse passeio vá até a Estação da Calçada (Largo da Calçada, 360, Comércio). A experiência da viagem completa você confere aqui.
5 – Lavagem do Bonfim
Toda segunda quinta-feira do ano, as baianas lavam a escadaria da Igreja Nosso Senhor do Bonfim em preparação para a festa que acontece no domingo seguinte. Eles saem da Igreja Nossa Senhora Conceição da Praia, no Comércio, e caminham oito quilômetros até a Colina Sagrada. Uma multidão acompanha as representantes do candomblé. Numa festa negra, as pessoas ouvem pagodão, axé, arrocha, forró, carregam cervejas na mão, veem políticos, artistas e até a igreja católica se apropriando da festa (agora a imagem do santo também desfila e há uma benção do padre no final). Tudo convivendo de forma espontânea lado a lado. Só vendo para (tentar) entender. Veja o relato completo aqui.
6 – Feira de São Joaquim
A primeira vez em que estive em Salvador, em 2006, e visitei a Feira de São Joaquim foi um choque tão grande que fiquei tentando decifrar porque permitiam que aquilo existisse. Animais vivos, mortos, itens para o candomblé, frutas regionais, temperos diversos, utensílios domésticos, restaurantes, serviços em geral, peças de decoração…Tudo que você imaginar, num ambiente simples, poluído de coisas e barato. O filme Cidade Baixa retrata um pouco do cenário do lugar. É o melhor local para comprar as lembrancinhas mais originais da cidade. Fica na Avenida Engenheiro Oscar Pontes, s/n, Comércio.
7 – Santo Antônio Além do Carmo
O bairro mais charmoso da cidade! Ao lado do Pelourinho, cheio de casinhas antigas, coloridas, com azulejos antigos e que de um dos lados têm vista para o mar. É conhecido por ser habitado por artistas, abrigas restaurantes, ateliês, cafés e antiquários. Recomendo uma visita à Rua Direita de Santo Antônio, onde você encontra: Casa Boqueirão (número 56), a Bar Cruz do Pascoal (nº 2), a Bar das Oliveiras (nº 110), Zanzibar (60-B), entre outros. Na minha temporada de verão, visitei várias vezes. Em todas me surpreendi com algo novo que não havia notado. Na pracinha em volta da igreja costuma ter shows nos domingos de janeiro e fevereiro e há bloquinhos que saem pelo bairro. Subir ou descer o Plano Inclinado do Pilar, espécie de bondinho gratuito que leva até a cidade baixa, também é uma boa pedida.
8 – Festa de Iemanjá
Todos vestidos de branco com flores na mão reverenciando a rainha do mar, Iemanjá. É assim o dia 2 de fevereiro no Rio Vermelho, quando uma multidão de pessoas vai as ruas na noite do 1 para o 2 e no dia 2 durante o dia para a festa que ocorre todos os anos. Os bares da região, como o Lalá, promovem shows abertos e gratuitos. É um grande réveillon, uma festa de paz e religiosidade em que barcos com oferendas vão sendo preparados para serem lançados no mar, sem deixar o “carnaval” de lado. Tudo muito bonito, tudo muito na paz. Várias pessoas visitam a cidade só por conta desta data.
9 – Saída do Ilê Aiyê no Curuzu
O sábado de Carnaval é um dos momentos auge para o bloco Ilê Aiyê e para o bairro do Curuzu, que vê seu ente mais famoso desfilando pelas ruas do bairro. Com uma comunidade em festa, o bloco solta pombas, batuca, anima a galera, que faz cortejo pela Ladeira do Curuzu atrás do trio elétrico cantando as músicas mais conhecidas em coro. As pessoas se apertam, mas tudo segue na mais absoluta tranquilidade. Os políticos, atrás de aumentar a popularidade, também frequentam a festa. Veja o relato completo aqui.
10 – Baiana System
Se ainda não conhece ou curte tanto, você vai ouvir dos locais que precisa ouvir e que a banda é o maior fenômeno dos últimos anos. E é. Eles dançam, protestam em letras políticas, pulam e se trompam sem fim. Não sou o maior fã de carteirinha do Baiana, mas vê-los se apresentando – de preferência no Furdunço, evento que ocorre na semana pré-carnaval – é de se embasbacar. É uma multidão, sem freio, que pula, se mistura, grita, canta cada frase, cada palavra. Nem sempre na paz, mas sempre sob o comando de permanecerem na tranquilidade. Vale, nem que seja pela experiência antropológica.
11 – Acervo da Laje
Amor à primeira vista. É como dá para definir a relação que tive com esse lugar único na periferia da cidade. Um sobrado que reúne obras de arte do subúrbio com donos da casa, Vilma Santos e José Eduardo Ferreira Santos, simpáticos e amorosos, que recebem os visitantes ávidos por mostrar todo o material e contar histórias. Ao todo são 4 mil peças entre esculturas, livros, croquis, jornais antigos, quadros, fotos, jornais antigos, conchas, azulejos e artefatos históricos. A visita é gratuita e o sobrado fica de frente para o mar, com vista para a linha férrea onde passa o trem da Suburbana. O pôr-do-sol de lá é um momento mágico. É preciso agendar a visita. Mais informações em: http://www.acervodalaje.com.br/
12 – Carnaval
“O baiano é um povo atrás do trio”. A frase de uma das músicas mais famosas da folia resume o que é isso. Uma festa enorme, que começa na quinta-feira e só termina com o arrastão na quarta-feira de cinzas. Blocos, trios elétricos, camarotes, dois circuitos com milhares de pessoas na rua. Uma festa que tem tudo para dar errado mas que diverte todos que se dispõem a estar nela. Dos artistas de sempre, como Luiz Caldas, Daniela Mercury e Ricardo Chaves, aos novos como Larissa Luz e Attooxxa: tem música e vibes para todos os gostos. Já os blocos afro trazem a cultura ancestral e o batuque para dar mais tempero à folia. Todo mundo – que topa enfrentar muvucas – precisa passar pelo menos um na vida.
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Que lista incrível!!! Muita coisa que eu não conhecia!
Obrigada por compartilhar 🙂
Eu vou só fazer uma observação, pois em 2019 eu perdi a lavagem do Bonfim, pois caí no mesmo engano.. o dia do evento é a segunda quinta-feira APÓS O DIA DE REIS. Parece um detalhe inofensivo, mas faz com que muitas vezes a Lavagem ocorra na terceira quinta-feira do ano.
Axé!!
total razão. vou corrigir no texto.