Não é à toa que a imagem que ajuda a resumir o Guia Negro e o que pretendemos fazer é a de meninos negros brincando na água. São momentos oníricos como esses que nos marcam e que queremos proporcionar para mais e mais pessoas. Nossa essência e propósito.
Cordoba e San Cipriano são povoados com pessoas negras na região do Pacífico colombiano, entre o mar e a floresta, cheios de verde e cachoeiras. Lugares que foram abandonados pelo poder público que deixou de lado o trem que cortava os vilarejos. No entanto, a comunidade local deu um jeito dessa história continuar: improvisou motos acopladas com pedaços de ferro em estruturas de madeira que percorrem a linha férrea conectando lugares. São as bruxitas.
O barulho é de trem, a velocidade é considerável, o preço justo, as acomodações e segurança questionáveis. Mas esse texto não é sobre carência ou perigos e, sim, sobre a magia de se reinventar, sobre como as pessoas pobres e pretas têm um poder de resiliência, resistência e criatividade que as fazem continuar em meio às adversidades que parecem intransponíveis. O povo preto sabe como fazer, né?!
A melhor parte da viagem de bruxita é sentir o vento no rosto, experenciar a vida que se movimenta, o mundo que gira em torno desse trilho, a economia que circula e as pessoas que podem ir mais facilmente de um povoado para outro.
Meses depois de ter vivido tudo isso escrevo esse relato impactado com as descobertas do caminho e beleza daquele momento. Ainda estou “preso” na descoberta desse meio de transporte e de sua genialidade do cotidiano. Um momento mágico de viagem que nunca mais vai sair da minha cabeça.