O conceito de valor é apreço ou estima por algo ou alguém. Para a economia, é o recebimento em dinheiro, bens ou serviços por algo, também “preço alto”. Ao levar em conta esses conceitos e definições, sinto uma insatisfação quando penso na resposta para a pergunta do título deste artigo. Sei que ainda somos “desvalorizados” quando se trata de investimentos ou pagamentos dos serviços e soluções relacionadas ao AFROTURISMO. Infelizmente, nosso trabalho ainda é relacionado a “voluntariado” ou algo semelhante. Não somos reconhecidos, nem vistos como o potencial financeiro de investimentos que nosso movimento merece. O racismo estrutural prefere o prejuízo a render-se ao óbvio potencial.
Quando falamos do capitalismo, ele ainda protege quem sempre esteve no poder, pois a estrutura do mundo ainda é conservadora e preconceituosa. Dificilmente os empreendedores negros terão as mesmas chances que empreendedores brancos quando se trata da captação de investimentos. A estrutura, consciente ou inconscientemente se protege. Basta observarmos o que acontece com startups. Ao observar os anúncios de captação de investimentos nos meios de comunicação do mercado financeiro, quantas fotos você vê startups com fundadores negros? E existem casos que mesmo que o fundador de uma startup gere um prejuízo enorme, demissões, etc, conseguir investimento para uma nova ideia de negócios que jamais um empreendedor negro conseguirá, por mais que a ideia deste empreendedor seja inclusivo, alinhado ao conceito de ESG, etc.
No afroturismo, o cenário é ainda mais complexo, mesmo diante de todo potencial evidente de retorno do investimento. Declarados, negros são a maioria da população do Brasil (56% segundo IBGE 2021) e viajar, praticar turismo é segundo ou terceiro desejo da maioria das pessoas. Cada vez mais esse turista negro, além de pessoas de outras etnias que se declaram antirracista, desejam ver um turismo mais diverso e inclusivo. Nesse contexto, a melhor forma de ver esse cenário tornar-se uma realidade logo é por meio de empresas do afroturismo sustentáveis financeiramente. E sendo sincero, a maior parte das empresas ou profissionais do afroturismo que conheço não desejam ser “unicórnios ” (startup que atinge um valor de mercado de R$ 1 bilhão). São empresários que desejam obter investimentos iniciais para desenvolverem seus negócios, a maioria deles inclusivos, sempre visando uma economia circular de dividir o lucro com todos os participantes negros do movimento, desde o guia de turismo ao restaurante, meio de hospedagem ou até cia aérea que apoia o movimento.
O afroturismo é UBUNTU, só será bem-sucedido se todos forem bem-sucedidos. Não existe para a maioria de nós o desejo do crescimento individual, nós pensamos no crescimento coletivo do movimento. Muitas vezes para nós, participarmos de rodadas de investimentos em startups ou algo semelhante, é um ato de coragem, pois na maioria das bancas avaliadoras não tem pessoas negras, o que não gera conexão com a ideia de negócios apresentadas. É coragem, pois nos deparamos nestas situações de como a estrutura ainda é forte para nos excluir. A maneira de apresentar uma ideia de negócios inclusiva, que combate preconceitos, que não visa apenas o lucro pelo lucro nem sempre agrada o capitalismo. Neste texto eu poderia colocar vários estudos, análises financeiras, dados estatísticos do quanto é valido investir no afroturismo, mas optei por propor uma reflexão no título e na parte final deste texto:
ROI é uma sigla financeira em inglês que significa Retorno do Investimento … então, pergunto: QUAL É O RETORNO DO INVESTIMENTO DE COMBATER O RACISMO?
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