Um milhão de metros quadrados de Mata Atlântica, onze olhos d’água, cinco espécies de animais em extinção, diversas lagoas e flora exuberante. Toda essa riqueza está no Vale Encantado em Salvador, parque florestal pouco conhecido pela população, no bairro de Patamares. O local é preservado pelo movimento ambientalista SOS Vale Encantado, que age em prol da conservação da reserva, bem como na divulgação para a sociedade.
E uma das maneiras de fazer a área ser mais conhecida é a prática do ‘Banho de floresta’, uma trilha que acontece no Vale. O ponto de encontro é na Praça da Umbaúba no Loteamento Colina C, um condomínio privado. Contudo, a trilha é aberta ao público, que precisa se inscrever por formulário disponível no Instagram do grupo (@sosvaleencantado) e seguir as recomendações. Entre elas está o uso de calça e calçados apropriados para a imersão na mata.
E uma das prerrogativas é silenciar. Com a orientação dos guias, o grupo tem acesso à floresta, sendo convidado a prestar atenção no entorno: a copa das árvores, o canto dos pássaros e os animais que aparecem. A prática foi criada no Japão, e os estudos científicos comprovam que gera benefícios para a saúde, como regulação da pressão arterial e fortalecimento do sistema imunológico. Embora saibamos que a contemplação da natureza para adquirir saúde já é praticada pelos indígenas brasileiros desde sempre.
Enfrentamento à ameaça que desencanta
Mesmo diante de tamanha importância, o Vale Encantado está ameaçado pelo PL 299/2019, em trâmite na Câmara Municipal de Salvador, que tem por objetivo a construção de uma pista em áreas do Vale, chegando até áreas verdes do Parque de Pituaçu. Esse projeto acarreta uma série de problemas sem precedentes para a sociedade e para a natureza.
Além dos questões climáticas já presentes, numa Salvador cada vez mais quente e menos verde, o desequilíbrio ambiental vai afetar ainda mais os animais, sobretudo os pássaros. Por essa razão, o grupo luta desde 2007 pela criação do REVIS – Refúgio de Vida Silvestre do Vale Encantado. Já foram realizados todos os processos burocráticos, incluindo uma audiência pública com resultados de estudos técnicos, em março de 2020.
Esse decreto torna a área preservada, principalmente de espécies em extinção, como macaco-prego, ouriço-cacheiro preto, jacaré do papo amarelo, tamanduá-mirim, e outras”, ressalta Sandra Jovita, uma das voluntárias do SOS. O único passo a ser dado nessa trilha íngreme e desafiadora é a assinatura do decreto para a criação do Refúgio. O movimento #AssinaNeto, após o fim da gestão do ex-prefeito, tornou-se #AssinaBruno, mas segue sem um retorno do atual gestor.
Além de acompanhar o Instagram e participar das trilhas, a população pode ajudar por meio de doação voluntária, compra dos artigos do grupo (como as camisas), divulgação do projeto nas redes e presencialmente, além de cobrar ao poder público que assine o decreto. Outra forma de fortalecer essa luta é plantando árvores, frutíferas de preferência para alimentar os pássaros. É necessária a nossa participação para fazer com o que Vale continue encantado e encantando.
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