Arqueólogos encontram novos itens na obra da Estação 14 Bis-Saracura, veja quais

A equipe de arqueologia que trabalha nas obras da Estação 14 Bis-Saracura, da futura Linha 6-Laranja do Metrô, no centro de São Paulo, encontrou fios de contas, conchas e uma imagem que pode representar uma divindade religiosa da cultura afro Exu, entre outros objetos relacionados a ferramentas de divindades africanas. Os novos itens podem ser do final do século 19, segundo o movimento Mobiliza Saracura Vai-Vai e foram achados em 25 de setembro deste ano.

“Têm sido encontrados muitos objetos que estão sendo associados, pela própria equipe de arqueologia, a elementos de ritos das religiões de matriz africana. São muitas conchas marinhas, mais de 200, que foram levadas para o local, cachimbos de cerâmica e madeira, três bonecos de arame associados ao orixá Exu, e, mais recentemente, um fio de contas depositado no solo junto com elementos em ferro”, explicou a moradora do Bixiga e integrante do Mobiliza Saracura Vai-Vai Luciana Araújo.

Quilombo

O território que do Bixiga abrigou no século 19 o Quilombo do Saracura, às margens do rio de mesmo nome, e a escola de samba Vai-Vai, nascida ali em 1930, a região pode é um espaço importante de sociabilidade negra, segundo especialistas no tema, como a doutora em ciência da religião Claudia Alexandre. São conhecidos assentamentos para Exu e Ogum no local, por exemplo, segundo estudo da pesquisadora.

Já Luciana Araujo considera que esses objetos reforçam as demandas do grupo para a preservação das estruturas construtivas, além dos artefatos associados diretamente à religiosidade, pois todos podem revelar um local de práticas religiosas, como um terreiro, por exemplo. Entretanto, ela reforçou que só será possível ter certeza se houver a devida pesquisa e preservação. 

Estação-Museu

“É possível seguir com a obra da estação e preservar os achados, como na estação Termini (em Roma), na Campo 24 de Agosto (em Portugal), a Monastiraki (em Atenas). Mas no Brasil o empreendedor só quer discutir os impactos da preservação na lucratividade”, disse.

Luciana lembrou ainda sobre a existência de leis que asseguram o direito à preservação do patrimônio material e imaterial e à contribuição dos grupos formadores da sociedade brasileira. Com isso, ter em vista que há registros documentais históricos de que aquele território abrigou um quilombo.

“Basta adequar o projeto da estação 14 Bis-Saracura para viabilizar a manutenção dessas estruturas, numa linha que já vai receber mais de R$ 100 milhões além do valor original do contrato em função de não terem realizado adequadamente os estudos geológicos no começo da obra. E isso não tem nada a ver com Saracura, mas com problemas em outras estações”, observou.

Para Luciana, se as pesquisas prévias não tivessem sido dispensadas, a população de São Paulo e do Bixiga não estaria vivendo um atraso na construção do metrô nem ameaças à preservação. “Poderíamos estar discutindo o ganho cultural, histórico, econômico, social e antirracista que esses achados trazem, o potencial que têm para aprendermos muito mais sobre a urbanização da cidade e do que foi o projeto de desenvolvimento paulistano”, ressaltou.

Descobertas

O sítio arqueológico foi encontrado em junho de 2022 no local onde ficava a quadra da escola de samba Vai-Vai, que deixou o Bixiga devido às obras do Metrô. O Guia Negro foi o primeiro a noticiar o fato, quando o restante da imprensa ignorou o comunicado dos moradores da região. Segundo o movimento Mobiliza Saracura Vai-Vai, a descoberta dos objetos arqueológicos indicam a possível existência de um templo afro-religioso antes da urbanização do local.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) afirmou em nota que todos os artefatos que vêm sendo encontrados têm sido estudados para que sejam corretamente identificados. A datação dos achados não foi confirmada por enquanto. 

“O Instituto informa que não tem medido esforços para compatibilizar a implantação das obras do metrô Saracura e as normas de preservação do patrimônio cultural brasileiro. Elas permitem a conservação e o estudo de relevante material arqueológico referente às memórias de populações que habitaram a região e que contribuíram para a formação histórica do país”.

Movimento

O movimento Saracura Vai-Vai luta para que estação de metrô da Linha 6-Laranja chame Saracura Vai-Vai, o nome do quilombo da escola de samba que ali funcionavam. O governo de São Paulo atendeu parcialmente o pedido neste ano com um decreto que prevê que a estação vai chamar 14 Bis Saracura.

Há ainda o pedido para que parte das cerca de 40 mil peças encontradas no local fique na própria estação, que se tornaria um museu. Além disso, que a Aciona, consórcio que administra a obra e que vai operar a linha, faça educação patrimonial, como as Caminhadas Bixiga Negra, realizada pelo Guia Negro, para que mais pessoas conheçam essa história. Um sonho mais distante, mas não impossível é que a estação tenha uma concha acústica para ensaios da escola de samba Vai-Vai.

Iphan e Linha Uni

Em nota, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) informou que, até o momento, não recebeu relatório referente aos achados pelo Saracura Vai-Vai. Segundo o instituto, em 25 de setembro foi realizada apenas uma fiscalização de rotina no sítio arqueológico Saracura, junto com a Comissão que vem tratando do tema e acompanhando os trabalhos.

“Todos os artefatos que vêm sendo encontrados ao longo das escavações realizadas pela empresa de arqueologia têm sido estudados por ela para que sejam corretamente identificados. Somente depois desse estudo, é possível obter informações precisas sobre qualquer achado”, informam.

O Iphan destacou ainda que “tem avaliado e vistoriado o trabalho da empresa de arqueologia contratada, a fim de cumprir seu papel de gestor do patrimônio arqueológico e não tem medido esforços para compatibilizar a implantação das obras do metrô Saracura e as normas de preservação do patrimônio cultural brasileiro, que permitem a conservação e o estudo de relevante material arqueológico referente às memórias de populações que habitaram a região e que contribuíram para a formação histórica do país”.

Já a concessionária Linha Uni, responsável pela Linha 6-Laranja, informou que acompanha constantemente os trabalhos de resgate arqueológico.

“No momento, os trabalhos de resgate seguem em andamento, respeitando-se todas as particularidades dos objetos e da história do sítio. A concessionária reafirma que todas as atividades de engenharia possíveis de serem executadas paralelamente ao trabalho de resgate arqueológico já foram concluídas”, diz a nota.

Com informações da Agência Brasil e site Metrópoles.

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Redação

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