Sete momentos memoráveis dos 70 anos da TV para a representatividade negra

Guilherme Soares Dias

A televisão brasileira completou 70 anos na última sexta-feira (18) e várias homenagens foram feitas para comemorar o veículo que faz parte da vida de todos nós. Desde a primeira transmissão até hoje foram diversos momentos memoráveis e, ao mesmo tempo em que torcemos, choramos, rimos e nos emocionamos, nós pessoas negras, sentimos falta de mais representatividade e de retratos reais dos negros na telinha.

Ao longo desses anos, foram muitos programas de auditório, telejornais, programas de humor, futebol e novelas, que muitas vezes embranqueceram a representação dos brasileiros. Mas tivemos momentos memoráveis que marcaram essa presença e que não sairão da memória de milhões de pessoas.

Confira nossa lista:

1 – Negro em papel não subalternizado

Considerada um marco na história do gênero, a telenovela Pecado Capital, que foi ao ar em 1975 na TV Globo, mostrou, pela primeira vez, um personagem negro, interpretado por Milton Gonçalves, usando terno e gravata, no papel de um psiquiatra. Nas telenovelas anteriores, o negro aparecia sempre em posições subalternas, fazendo papéis de motorista ou de escravo, em novelas de época. Foi um avanço, seguido, entretanto, de muitos outros retrocessos, como lembra artigo publicado pela Pesquisa FAPESP.

2 – Protagonista negra

Taís Araújo marcou história ao se torar a primeira mulher negra a ser protagonista de uma novela, em Xica da Silva, exibida pela Manchete em 1996/1997. Em 2003, Taís Araújo tornou-se a primeira mulher negra a protagonizar uma novela da Globo – na faixa das 7 – Da Cor do Pecado. Em 2009/2010, ela chega ao horário das 21h e torna-se a primeira protagonista negra de uma novela do horário nobre da Globo, vivendo Helena em Amor à Vida.

3 – Gloria Maria entrevista Michael Jackson

Glória faz parte da TV brasileira. É de longe a jornalista mais conhecida dos noticiários. Já viajou o mundo e protagonizou diversos momentos e entrevistas antológicas. Na década de 1970, ela foi barrada na porta de um hotel de luxo, na zona sul do Rio. “Preto tem que entrar pela porta dos fundos”, disse o gerente. A jornalista chamou a polícia e usou a Lei Afonso Arinos contra a discriminação racial no Brasil. O funcionário que a ofendeu foi demitido. O caso gerou ruidosa repercussão na época. Em 1971, estreia no “Jornal Nacional”, Glória Maria, a primeira repórter negra da televisão brasileira. Glória foi, ainda, a primeira repórter a entrar ao vivo no “Jornal Nacional” e suas aventuras, como pular de asa delta descrevendo sua sensação, fez a repórter virar celebridade. Elegemos como momento auge a entrevista que fez com o cantor Michael Jackson que veio ao Brasil gravar o clipe da música “Don’t Care about us” em 1996. Após anos apresentado o Fantástico, hoje ela está a frente e faz reportagens para o Globo Repórter.

4 – Netinho de Paula e a TV da Gente

O cantor Netinho de Paulo foi precursor também na TV. Começou apresentando o programa Samba, Pagode e Cia, na TV Globo em 1999, e foi apresentar o quadro “Dia de Princesa”, no “Domingo Legal”, no SBT. Entre 2001 e 2005, ele teve o próprio programa de auditório na TV Record, denominado Domingo da Gente. Em 20 de novembro de 2005, ele colocou no ar a TV da Gente voltada ao público negro. A programação composta por diversos apresentadores negros foi um marco na televisão brasileira, mas durou apenas alguns meses. Netinho foi vereador em São Paulo, foi envolvido em processo de agressão contra a mulher e em 2019 voltou a apresentar um programa dominical, o Show da Gente.

5 – Mr, Brau/Ó Pai Ó

A TV brasileira não tem muitos sitcons protagonizados por pessoas negras como ocorre nos Estados Unidos. Mas a série Ó Paí, Ó trouxe a o humor e a baianidade do Pelourinho para a TV Globo em 2009, após o sucesso do filme homônimo, que tinha no elenco atores negros do Bando de Teatro Olodum, que também encenam a peça no teatro. Já Mr. Brau, que foi ao ar na TV Globo entre 2015 e 2018, mostra Brau (Lázaro Ramos) como um cantor popular casado com Michele (Taís Araújo), empresária, coreógrafa e esposa. Engraçado, a série mostrava os bastidores de um casal negro bem sucedido no show business.

6 – Grande Otelo

Sebastião Bernardes de Souza Prata, conhecido como Grande Otelo, é considerado por muitos um dos maiores atores da história brasileira. Atuou no teatro e no cinema e na TV foi contratado da TV Globo a partir da década de 60. Na emissora, atuou em diversas telenovelas, como Uma Rosa com Amor. Também participou do humorístico Escolinha do Professor Raimundo, no início dos anos 1990. Seu último trabalho, segundo o Wikipedia, foi na telenovela Renascer, pouco antes de morrer.

7 – Big Brother Brasil

O Big Brother Brasil surgiu em 2002 e se consolidou como um dos principais reality shows da TV. O programa sempre teve elenco majoritariamente branco, com pessoas negras fazendo o papel de coadjuvantes e cota na edição. Em 2020, o programa trouxe influenciadores para a casa, quebrou recordes de votações, atingiu picos de audiência, novamente com elenco de maioria branca. Mas a vitória da Thelma e as discussões raciais em torno da participação de Babu foram o ponto alto e mudaram a história do programa.

E se a TV teve momentos importantes para as pessoas negras. Teve tantos outros em que ignorou a presença de negros ou simplesmente foi racista. Confira reportagem sobre o tema:

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Redação

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