Desde 2018 o setor do afroturismo vem se consolidando e atraindo novas empresas e políticas específicas. Seis anos depois, neste dezembro de 2024, o Ministério do Turismo, finalmente, lança o “Diagnóstico de Políticas Públicas de Afroturismo no Brasil”, o mais importante documento sobre afroturismo desde sua constituição como setor. A iniciativa integra o Programa Rotas Negras do governo federal e tem como objetivo fomentar a atividade, promover o desenvolvimento sustentável de comunidades negras e valorizar a cultura afro-brasileira tanto no país quanto no exterior.
Sem pessoas negras no cargo de gestão e pesquisa, o MTur contratou uma consultoria especializada para realizar o trabalho, mas ainda não incorpora essa negritude na sua estrutura. Após um concorrido processo de seleção, Thais Rosa Pinheiro, turismóloga e fundadora da agência de turismo Conectando Territórios, foi selecionada para elaborar o estudo, sendo uma das mais respeitadas profissionais do setor. O diagnóstico produzido em cerca de quatro meses analisa iniciativas governamentais voltadas ao afroturismo e identifica desafios, oportunidades e recomendações para consolidá-lo como política pública. A pesquisa englobou dados de órgãos oficiais de Turismo e contou com a colaboração de diversas esferas de governo.
O levantamento busca identificar boas práticas nacionais e internacionais, obstáculos à implementação de ações públicas e medir a eficácia destas iniciativas no fortalecimento da identidade afro-brasileira. Entre as críticas dos membros do setor está a ausência no relatório de iniciativas do Norte (Amazônia) e da região Sul, além de não relatar a importância das iniciativas privadas para o estabelecimento do setor e a construção de uma associação (projeto em curso e ignorado no estudo).
A consultora Thais Rosa lembra que o foco do estudo foram as políticas públicas a partir de levantamentos com os órgãos públicos. “A adesão foi bem pequena”, lembra, ressaltando que o objetivo do diagnóstico é mostrar o que os governos vem fazendo em relação ao afroturismo. “A região Sul apareceu no âmbito federal e o Norte não apareceu, mas estará no mapeamento que faremos sobre os ecossistemas de empreendedores e iniciativas, previsto para abril”, informa.
Além disso, a consultora ressalta que as boas práticas destacadas no estudo foram os estados pioneiros nas ações de afroturismo. “Percebemos que os que responderam não tinham muito conhecimento sobre o tema também”, afirma Thais Rosa. O documento servirá para gerar informação para os órgãos públicos que não tem conhecimento sobre o afroturismo e para que implementem ações. A partir dos levantamentos, o programa Rotas Negras, do governo federal, será executado com base nos dados.
O Ministério do Turismo diz que o estudo tem como objetivo proporcionar a inclusão social e econômica, a educação sobre diversidade cultural e o respeito às tradições das comunidades negras. A coordenadora-geral de Produtos e Experiências Turísticas do Ministério do Turismo, Fabiana Oliveira, ressaltou a importância da pesquisa ao desenvolvimento do afroturismo. “Este documento é um marco para entendermos como as políticas públicas podem transformar o turismo em uma ferramenta de inclusão e valorização da riqueza cultural do nosso país”, frisou.
O diagnóstico está disponível neste link.
MOVIMENTO
Importante lembrar que o afroturismo é desenhado há mais de duas décadas. Mesmo quando ainda era chamado de turismo étnico ou turismo étnico-afro e que tinha a participação de algumas pessoas que agiam de forma isolada e lutaram por uma articulação nacional, presença em eventos e políticas públicas específicas.
Caminhada que resulta nos movimentos que se concretizam hoje, como a coordenadoria de afroturismo da Embratur, agência que promove o Brasil como destino no exterior, e que tem Tânia Neres, uma das lideranças do setor, no comando. Hoje, o coletivo do afroturismo reúne pessoas de diferentes regiões do país e busca formalizar a luta em uma associação do setor.
MAPEAMENTO
Como parte das ações para desenvolver o afroturismo no país, o Ministério do Turismo também realizou um mapeamento das iniciativas existentes. O trabalho identificou projetos e políticas públicas nas esferas federal, estadual e municipal que valorizam a cultura afro-brasileira.
O estudo do MTur revelou iniciativas inovadoras e boas práticas que servem de inspiração para ações futuras, além de ter constatado desafios a serem enfrentados.
O diagnóstico da consultora Thais Rosa Pinheiro e o mapeamento do MTur são passos fundamentais para fortalecer o papel do turismo na promoção da equidade social e no reconhecimento da contribuição das comunidades negras à cultura e à história do país.
ROTAS NEGRAS
O Programa Rotas Negras é uma das ações de destaque desenvolvidas pelo governo federal para assegurar igualdade racial. Organizado por representantes dos ministérios do Turismo, da Igualdade Racial e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, além de outros órgãos federais, o projeto promove a valorização das comunidades afrodescendentes e fortalece o compromisso com o enfrentamento ao racismo.
Com informações da Agência Brasil