Afroturismo ou turismo afroreferenciado
Eu vou explicar pra vocês o que significa, mas antes queria falar desse prefixo afro, que vem de áfrica assim como milhares de pessoas que saíram de maneira forçada do continente africano e hoje vivem em diáspora buscando se conectar com a cultura, história e outras pessoas negras. E é exatamente isso que faz o afroturismo.
Afro também é o prefixo da palavra afronta que foi o que trouxe a gente aqui para essa conversa. Afinal, esse tema não estava na programação da Abav Collab 2020, não fomos convidados desde o início. Isso ocorreu porque escrevi uma matéria no Guia Negro, do qual sou editor, e porque a Gabriela Palma postou no Instagram dela que nesse ano do #vidasnegrasimportam o afroturismo estava sendo ignorado desse evento.
Nós, pessoas pretas, vivemos diariamente com essa exclusão e esquecimento. O nome disso é racismo estrutural. Isso atinge os 56% da população brasileira que se declara negra em todas as esferas. No turismo não é diferente.
O afroturismo existe há bastante tempo. Queria inclusive saldar as mais velhas como Solange Barbosa, da Rota Liberdade, e Nilzete dos Santos, da Afrotours, em Salvador. Elas atuam nesse segmento há mais de uma década e continuam sendo invisíveis para o mainstream do mercado.
Nós não vamos deixar que isso aconteça mais. Se não nos convidarem, vamos meter o pé na porta e entrar mesmo assim. Queremos o investimento dos grandes players nesse mercado que está em expansão no Brasil e já movimenta bilhões de dólares nos Estados Unidos, onde o Black Travel Movement é realidade. Por lá, os afro-americanos viajam para lugares da diáspora africana, o que inclui o Brasil.
Queremos pesquisa para saber qual o percentual dos viajantes brasileiros é negro. Como se comportam esses consumidores negros quando viajam. E sabemos que é bastante diferente dos brancos como ocorre em outros segmentos.
E o mais importante o afroturismo já é realidade. É uma chave que não tem volta e assim como aconteceu com a estética em que as pessoas negras passaram a adotar seus cabelos naturais ao invés de alisar anos atrás e a indústria dos cosméticos teve que se adaptar a isso. Essa transformação vai ocorrer no turismo e não tem volta. E uma vez que uma pessoa, em especial negra, pratica afroturismo, ela nunca mais vai para um lugar somente de olho no turismo convencional e comercial.
Temos nome e sobrenome e ele é afro-turismo!
Nos respeitem, incentivem, pesquisem sobre o setor, convidem a gente para os eventos, invistam e principalmente viajem de forma mais diversa, ou seja, conheça lugares de história e cultura negra. Pratiquem o afroturismo. Afroturiste!
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