Slam Laje no Complexo do Alemão

O Complexo do Alemão continua em guerra. Não as batalhas que acompanhamos pela imprensa, mas uma disputa de palavras. Poesias recitadas por escritores de vários cantos do Rio e de outras quebradas do Brasil concorrem no Slam Laje, que ocorre uma vez por na Casa Brota, espaço criado por um coletivo e hoje gerido pela jornalista Thamyra Thâmara e pelo ator e comediante Marcelo Magano.

Na literatura periférica, as poesias falam de resistência, representatividade, identidade, humor, cotidiano nas favelas, negritude, machismo, homofobia. Nada é duro, nem careta. Afinal, tem humor garantido pelos apresentadores Marcelo Magano e Patrick Sonata, uma dupla de stand up que ri de coisas como dizer que favela é comunidade e que só há carências por lá.

É de rir mesmo ao ver tanta riqueza de ideias e criatividade junta. A cultura que a casa transpira e os encontros que proporciona mostram que o Alemão está vivo, para além da mídia, dos governos ou das estatísticas ruins. Com as notícias de intervenção militar, insegurança, tiroteios, disputa de comandos em favelas do Rio, subir o Alemão causa um pouco de apreensão num primeiro momento. Eu já tinha estado no morro por volta de 2011, quando o teleférico tinha acabado de ser inaugurado e era modinha. Fui com um grupo de turistas de um hostel em que fiquei hospedado. Não tive um contato muito real com o lugar, mas me impressionei com a grandiosidade da favela.

Dessa vez, ia mais para conhecer Marcelo e Thamyra, casal viajante que mantem o blog Favelados pelo Mundo em que contam as peripécias de viajar, dão dicas e inspiram outros jovens a fazerem o mesmo. Para além das viagens já tinha entendido que a residência que eles moram é um acontecimento. O lugar chamado de Casa Brota abriga iniciativas de comunicação, empreendedorismo e hospedagem sustentável. Eles agora estão mais pop, após reportagem no RJ TV, da TV Globo, mas estão há algum tempo nessa caminhada. Um dos projetos mais antigos é o GatoMídia, que estimula a convivência e o aprendizado em mídia e tecnologia para jovens de espaços populares.

Chegar até lá foi mais tranquilo do que eu pensava. A única questão é achar um mototaxi ou Kombi, que te levam morro acima por R$ 3. Não há um local de concentração tão óbvio, como existe no Vidigal, por exemplo. A Kombi sai de um bar de esquina e seu ponto final é muito próximo da Casa Brota, localizada em frente ao teleférico (hoje desativado) e da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Grota. Para além das casas que se amontoam desafiando normas de arquitetura e das crianças que correm soltas pela rua, há policiais desfilando em carros com suas metralhadoras. Alguns ficam em esquinas com uniformes pretos, como se fossem seguranças. O entorno da Casa Brota que já foi um dos mais violentos por ser um dos pontos mais altos, hoje é um dos mais tranquilos.

E em dia de Slam quase nem precisa dizer onde vai. Os mototaxis do morro já sabem o lugar para o qual os visitantes seguem. “Todos tem o mesmo tipinho”, dizem. Lá em cima, na laje, o sol ilumina quem subiu o morro e joga luz sobre as casas, pessoas e vida real desse lugar. Ele vai indo embora sob o mar e vamos dando adeus com uma vista privilegiada. No Slam, a poesia dá lugar à batalha de passinho. A “menorzada” ou as crianças do morro disputam quem dança melhor. É ombrinho que se mexe, perninha que se movimenta. Palmas e funk dão o som. Dança e poesia são as disputas que a gente quer ver nesse espaço. E, desculpa o trocadilho, mas o Alemão segue mais vivo e complexo do que nunca.

Serviço: O endereço da Casa Brota é Rua Ari Barroso – 17, Complexo do Alemão (central), zona norte, próxima ao Teleférico da Grota.

O espaço também está disponível para abrigar visitantes pelo Diaspora.black  e do Airbnb

E todos nós podemos e devemos ajudar as atividades, a maior parte gratuitas, a continuarem. Para contribuir com a cobertura da laje e com as atividades até o fim do ano, doe qualquer valor na vaquinha online.

Os sambas da Rua 2: uma viagem à periferia

 

 

 

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Redação

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