O que é o sankofa no afroturismo?

Sankofa é uma das filosofias africanas que mais utilizo no meu dia a dia, principalmente, nos momentos em que preciso tomar grandes decisões. Em uma explicação livre e simples, Sankofa é voltar no PASSADO para aprender com erros e acertos para compreender o PRESENTE. O objetivo é fazer as melhores escolhas para o FUTURO. Para mim, além de tudo isto, Sankofa é cura, ajuda a focar, a evoluir e pacificar nos momentos de grandes desafios e atribulações. E, considero, que estamos no momento ideal para o afroturismo realizar o Sankofa.

Uma das maiores qualidades das lideranças do afroturismo no Brasil é que, a maioria de nós, honra que iniciou tudo isto, na época em que o segmento ainda era chamado de turismo étnico racial. Sabemos o quão desafiador foi falar sobre isto há dez, quinze anos, principalmente, pelo fato do turismo ser muito tradicional e conservador no país.

Além disso, as iniciativas de inclusão racial de forma mais ampla estavam também no início neste período. Sempre enfatizamos que não fomos os primeiros, respeitamos quem chegou antes de nós e abriu os caminhos para o afroturismo ser o que é atualmente.

Avançamos


Nos últimos quatros, conseguimos conquistas enormes para o afroturismo nacional. A maior delas, sem dúvidas, é ter uma coordenadoria dedicada ao segmento na Embratur, sendo comandada por uma mulher negra, que é umas principais lideranças do nosso movimento. Isso nos gera muita felicidade, representatividade e pertencimento.

Em São Paulo, há um ano fazemos parte do Conselho Municipal do Turismo como entidade convidada por meio do Fórum São Paulo do Afroturismo, o que nos dá voz e decisão nas principais decisões do turismo na cidade. Desde de março, temos o Plano de Desenvolvimento do Afroturismo no estado de São Paulo, apoiado pela Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo. O plano é realizado por um grupo de trabalho de lideranças do afroturismo estadual.

Também temos excelentes inciativas no Rio de Janeiro e Salvador que se destacam para desenvolvimento do segmento, com parcerias de órgãos públicos com parcerias corporativas. Claro que estamos longe do ideal, mas foram grandes os avanços.

Afroturismo? Presente!


Também celebramos estarmos nos principais eventos do turismo no Brasil, com destaque para o WTM Latin América, que além de vários estandes e participação em painéis de diversidade e inclusão, tem pelo segundo ano seguido uma premiação exclusiva para profissionais destaques do afroturismo organizado em parceria com Guia Negro no principal auditório de evento.

Infelizmente, temos outros eventos como ABAV e Salão Nacional do Turismo que, basicamente, ou nos ignoram, sem mínimo apoio para nossa participação, ou nos convidam para participar, mas sem suporte em nossos estandes e painéis. Algo bastante prejudicial para o nosso setor, uma vez que nesses eventos a maioria do público não conhece o afroturismo e seria uma ótima oportunidade.

O maior desafio é:


Atualmente, vejo que o maior desafio do futuro do afroturismo é a conscientização da mentalidade de crescimento coletivo para criarmos a importante e necessária Associação Nacional do Afroturismo. Assim, ganharmos uma referência público-privada do segmento. Hoje, até compreensível pela luta diária de sobrevivência da maioria dos empreendedores que atuam no segmento, ainda se pensa muito no “EU” e pouco no “NÓS”.

Mas sozinhos continuaremos a ser apenas um movimento de inclusão e diversidade racial no setor, sem a possibilidade de receber apoios de órgãos públicos, de empresas privadas, etc. Sem falar da falta de visibilidade e reconhecimento do público geral sobre a sua existência. Por mais que a maioria da população do país se auto declare negra, a maioria das pessoas ainda não conhece o afroturismo, nem a possibilidades de consumir experiências turísticas de forma afrocentrada.

De maneira urgente, precisamos superar algumas diferenças locais, regionais ou nacionais, reforçando que o foco é o coletivo. Se respeitarmos nossos ancestrais negros vamos entender que nossa força virá e será do coletivo.

O AFROTURISMO em que acredito não foi feito para destaques individuais, sempre será em prol da maioria que atua no segmento. Um setor em prol de promover a máxima inclusão de empreendedores, empresários, profissionais negros e, consequentemente, turistas negros e antirracistas.

Este é um desafio que está em nossas mãos. É o momento em que o afroturismo tem recebido maior apoio no país e cabe a nós, lideranças do movimento, aproveitar para consolidar e evoluir o segmento.

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Hubber Clemente

Negro, paulistano, que ama sua cidade, principalmente o centro, local de importância histórica e ancestral para o povo negro, onde também fica sua escola de samba do coração, a Vai Vai. Hoteleiro por vocação e paixão, com mais de 22 anos de carreira no setor. Ativista, militante, divulgador do AFROTURISMO como caminho de inclusão racial, diversidade, resgaste histórico e conexão ancestral por meio do turismo, visando uma sociedade melhor e a mais justa. Fundador da iniciativa Negros e Pretos Afro Turismo Afro Hotelaria, Co fundador Papo de Hoteleiro ,integrante da comunidade de inovação Inovadores Inquietos, Coletivo pelo Afroturismo, do Comitê da Diversidade no Turismo e apoiador de parcerias do Coletivo Quilombo Aéreo

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