Quilombo fica a 40 quilômetros de Campo Grande e abriga cachoeira, trilhas e povo receptivo
Campo Grande, a capital do Mato Grosso do Sul, é conhecida pelo calor e dias longos de verão. O que nem todo mundo sabe é que bem perto dali há um quilombo chamado Furnas do Dionísio, que abriga cachoeira, restaurante, casa de farinha, trilhas e um povo receptivo. É um passeio imperdível para quem gosta de natureza e de valorizar a cultura e história de povos tradicionais.
Furnas do Dionísio fica no município de Jaraguari. Para chegar até lá, é preciso pegar a MS-010 (saída da UCDB em direção a Rochedinho) e seguir 40 quilômetros, dos quais menos da metade são de estrada de chão, que costuma ser bem conservada. A viagem é tranquila e dura cerca de uma hora. A entrada da comunidade é sinalizada e há moradores que podem indicar a sede da associação ou o Recanto da Ceci, os melhores lugares para almoçar e comprar rapadura e frutas produzidas por lá.
No domingo em que visitei, Dona Ceci serviu nas varandas anexas a sua casa arroz de tacho, feijão, guariroba, salada de tomate, quiabo e churrasco. A comida é caseira, feita com carinho e uma delícia. Depois do almoço, é possível tomar café, comer um doce ou tomar tereré e bater um dedo de prosa com Dona Ceci.
O almoço por lá custa R$ 15. É sempre bom avisar que está indo para garantir que terá comida para todo mundo. É possível comprar água, refrigerante e cerveja. Próximo dos restaurantes, fica a cachoeira. É cobrada uma taxa de R$ 10 por carro ou R$ 5 por moto para ter acesso as duas quedas d´água. O rio é limpo, na maior parte raso e um bom local para refrescar adultos, crianças e idosos (o caminho onde se deixa o carro até a queda d’água é de apenas 500 metros).
Para fazer a trilha, que sobe os morros da região é preciso contratar um guia. O serviço custa R$ 20 por pessoa. Quem faz esse trabalho é Osvair Barbosa Silva, morador da comunidade e tataraneto do fundador da comunidade. Ao todo são 13 trilhas abertas por ele mesmo. Na que fizemos, foram 4 quilômetros e cerca de 40 minutos de caminhada. Vimos árvores nativas, lagartos, um mirante que dá vista para a comunidade e uma cachoeira seca. O nível da trilha era fácil a moderado. Há caminhos que passam pela casa dos moradores e em outros que é possível colher guavira ou outras frutas da região.
História. O local recebe esse nome por ficar entre montanhas e ter sido fundado pelo escravo liberto Dionísio Antônio Vieira, um mineiro que chegou a região por volta de 1890 junto com José Antônio Pereira, reconhecido como fundador de Campo Grande, apesar de alguns apontarem Eva Maria de Jesus, escrava liberta e fundadora da comunidade Tia Eva, como a primeira moradora da cidade – mas essa é uma outra história. No caso de Furnas, o local que pertencia a Dionísio e possui 1.114 hectares foi reconhecido pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) como quilombo em 2009. “Ele teve nove filhos e queria que eles sempre tivessem um lugar para viver”, conta Osvair Barbosa Silva. Por lá, vivem cerca de 500 pessoas. Somente o Mato Grosso do Sul abriga 114 comunidades quilombolas.
Osvair lembra ainda que até a década de 80, o catolicismo prevalecia e eram as pessoas mais velhas que tomavam as decisões. Naquela década, foi criada a Associação dos Pequenos Produtores. De lá para cá, a comunidade recebeu luz elétrica, máquinas para plantio e casas populares. Hoje, são produzidas mandioca, arroz e hortaliças, além de açúcar, rapadura e doces na usina. Na associação, também é possível comprar manga, banana e frutas e verduras da época.
Em 1995, houve o primeiro contato do movimento negro de Campo Grande com a comunidade. “Chegaram negros diferentes aqui, vestidos de bata e com cara de gente da cidade, como você”, diz ele, referindo-se a mim. A aproximação fez com que a comunidade realizasse um dos seus maiores sonhos: o de abrigar uma escola estadual que se chama Zumbi dos Palmares. Nela, é possível cursar o ensino fundamental e há professores da comunidade.
Turismo e festas. O turismo tem se tornado uma das fontes de renda de Furnas. Além do almoço, das trilhas e da cachoeira, a intenção dos moradores é oferecer casas para abrigar turistas que queiram pernoitar na comunidade. Também há quem vai acampar por lá. O aumento de visitantes ocorreu após uma matéria em site local que divulgou o destino. Mesmo com o aumento do interesse, muita gente em Campo Grande não conhece o local.
As festas mais tradicionais da comunidade são a de Nossa Senhora Aparecida, em 12 de outubro, e a Festa da Rapadura, no segundo domingo do mês de agosto. As comemorações são parte da cultura de Furnas e dão mais visibilidade a uma comunidade, que, como a maioria dos quilombos, nem sempre é lembrada e que luta pela preservação de sua história e tradição. E como diz Adriano Santos da Silva, ex-presidente da Associação dos Pequenos Produtores de Furnas: “A cada dia que amanhecemos comemoramos uma vitória”.
Serviço: O contato para reservar o almoço e solicitar o serviço do guia pode ser feito pelo telefone: (67) 99607-2105 (Osvair). É mais fácil falar com ele, em ligação do que pelo whatsapp.
O que levar: repelente, protetor solar, roupas de banho, toalha, óculos de sol, água, tênis para caminhada, chapéu ou boné.
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Eu achei oh lugar lindo eu guero muito conhecer eu ih minha amiga
Porque aparece comentário repetido se eu não fiz nenhum comentário antes
Adorei conhecer um pouco desta história quecests dentro de campo grande, ms e não tinha tanta informação!!